Fevereiro - Capítulo Sete

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Uma equipe especial fora acionada e agora todos estavam no Cais da Alfândega. A área era varrida, quando Ângela percebeu uma movimentação diferente.

"O que aquele catamarã está fazendo ali a esta hora?"

Medeiros olhou na direção apontada. Um barco, àquela hora vazio, vinha na direção da Torre de Cristal de Brennand. "Eu poderia dizer que era um turismo noturno, mas está vazio."

"O catamarã!"

Um barco com mergulhadores se aproximou e logo dois deles mergulharam às voltas. Ângela esperou a confirmação, mas não precisou, pois viu quando eles ergueram um corpo e o colocaram no barco de turismo.

"Uma garota estava presa ao catamarã", informou o rapaz. "Ligaram e o deixaram vir nesta direção. O leme está amarrado."

"Provavelmente bateria e faria estrondo nas pedras, logo abaixo da Torre. A moça está viva?"

"O pulso é fraco. Já estamos prestando os primeiros socorros!"

"Há algo nela, algo preso em sua boca, em suas mãos, alguma coisa?"

"Bem, há um pequeno invólucro plástico amarrado em seu pulso."

"Traga-o para mim imediatamente."

Ângela estava apreensiva. Ao menos conseguiram salvar mais uma garota. O que aconteceria agora? Medeiros aproximou-se dela.

"Há uma outra notícia que acabei de receber através de Márcia."

"O que é?"

"Marcus Azevedo, o carnavalesco dono do camarote. Ele foi o contratado do Bloco da Saudade este ano. Ele desenhou as fantasias e planejou a homenagem aos papangus de Bezerros."

"Eu quero ele de volta na minha sala já!"

***

A garota fora identificada e levada pelo Corpo de Bombeiros ao Hospital da Restauração. Ela fora encontrada amarrada ao Catamarã. Havia um suprimento de oxigênio programado a ser cortado. Ela fora deixada mergulhada, segundo os bombeiros, provavelmente desde a manhã. Já estava desacordada por falta de ar, e se demorassem mais um pouco, ela estaria morta.

Amarrado ao seu braço, um invólucro contendo outro poema.

As primárias giraram
E também circundaram
Um templo para Baco
Que eu vou construir.

Colunas brilhantes
E sons retumbantes
Um altar gigante
Eu vou erigir.

Solto ou virado,
Simbólico gado,
Libação a Baco
Do bronze a subir.

Ela não tinha cabeça para pensar naquele poema, e naquele momento, após lê-lo tantas e tantas vezes, chegava o carnavalesco escoltado por agentes.

"Escute aqui, senhor, eu vou lhe dizer apenas uma vez. Eu quero saber imediatamente o que você tem a ver com isso. Uma mulher misteriosamente morre, caindo da sacada do seu camarote, uma mulher contratada por você. Assassinatos têm espalhado o terror pelo Carnaval da cidade, carnaval este que deveria ser organizado por você, como há tantos anos, mas foi substituído por outro carnavalesco. E agora, eu fico sabendo que uma das minhas pistas mais quentes também tem a ver com você. Você organizou o Bloco da Saudade este ano, tudo a ver com papangus. Agora uma mulher quase morre, e há mais uma ameaça ao carnaval. Eu quero saber o que isto significa!"

Virou a tela do computador para que ele visse o poema.

"Eu não sei do que você está falando! Se existem provas apontando para mim, eu juro que eu não tenho nada a ver com isso, estão armando pra mim!"

Ângela riu sem humor algum. "Está me dizendo que alguém está querendo ferrar com você? E por que alguém faria isso? Você já foi ferrado de todo o jeito, se olharmos pelo seu lado."

"De jeito nenhum! Estou seguindo minha vida!"

"Vai me dizer que não ficou irritado por ter sido substituído?"

"É claro que fiquei! Mas aí a matar?"

Ela bateu na mesa e saiu da sala, deixando ele só com dois agentes.

***

Márcia estava estudando os versos quando Ângela voltou.

"Medeiros levou o seu suspeito para ser fichado. Ele está preso, mas vão entrar com habeas corpus. Ele vai sair já já."

Ângela suspirou. "Alguma informação aí?"

"Sim, acredito que temos más notícias."

"O que quer dizer?"

"Acho que nosso assassino vai fazer um grande 'sangangu' amanhã à noite, em pleno Marco Zero."

Ângela já havia se acostumado ao jeito de Márcia falar. Mas naquele momento não tinha humor para brincar. "Como assim?"

"O poema diz que as passistas dançaram e circundaram o templo para Baco que ele vai construir. Os locais onde as passistas foram deixadas circundam o Marco Zero. É tudo a ver com o Marco Zero."

"Continue."

"Ele diz que vai construir um templo para o Deus do vinho e das festas. Diz também que vai erigir colunas brilhantes. Dentro da temática de todos os poemas, o que você acha que isto significa?"

"Bombas?"

"Algo do tipo. Fogo em forma de colunas."

"Continue."

"E vai ser amanhã à noite, pode ter certeza."

"Como sabe?"

"Ele fala de sons retumbantes, solto ou virado, e gado simbólico. Amanhã à noite haverá apresentação de Maracatus no Marco Zero, com danças do Bumba-Meu-Boi. O boi é o gado simbólico. Solto ou Virado são tipos de Maracatu, e sons retumbantes. Antigamente, no Império Romano, se fazia libações aos deuses matando bois cevados. Libação a baco. E efetivamente tudo isso vai subir do bronze."

"A placa de bronze do Marco Zero."

"Exatamente! Na apresentação dos bois e dos maracatus, ele vai explodir tudo! Vai ser um caos!"

"Oh Deus... e nem podemos alertar a população ou vai ser um caos. O Governador já avisou que quer a resolução e não um 'sangangu'!"

"Precisamos fazer alguma coisa"

"Sim, precisamos."


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