Superstar - Capítulo Seis

Chegando agora? Acompanhe esta história do início, clicando AQUI.



Reabilitação.

Nem de perto eu poderia imaginar o que era aquilo. Uma clínica do medo, o pavor ecoava pelas paredes. Drogas. Eu vivia sendo drogada por eles, disso eu tinha certeza, porque não tinha mais noção da realidade.

Às vezes, eu estava num lugar lindo, em outros momentos eu vivia um verdadeiro pesadelo. Eu tinha a sensação de estar sendo tocada por várias mãos, mas não conseguia me mover nem mesmo identificar quem eram essas pessoas. Não podia reclamar nem falar, estava grogue demais.

Apenas uma coisa se repetia. Cada vez que eu me sentia mal, que estava num momento de intenso sofrimento, alguém me dizia: "vá, Megan, vá para o País das Maravilhas... ele espera por você."


Às vezes eu conseguia ir... caminhava num lugar lindo, encontrava o coelho branco e o seguia. Mas, alguns momentos isso não funcionava, e eu sentia muitas dores.

Dor era o mínimo. Fui agredida, machucada, drogada, mas não sabia ao certo o que era pesadelo e o que era alucinação. Sentia vontade de fugir. Mas não tinha esperanças de uma fuga. Até que aquelas sensações ruins passaram. E começou uma nova sensação, uma nova seção de tortura.

Era uma sala escura. Quando entrei, vi minha imagem ser espalhada por todas as paredes. Careca. Tive vontade de chorar novamente.

Eu estava no centro de uma sala octogonal, onde cada lado das paredes havia um grande espelho. No centro dela tinha uma cadeira, onde eu estava sentada com as pernas e as mãos atados. Assim que acordei, uma tela de plasma desceu e ficou à minha frente. E então percebi que havia vários tubos intravenosos conectados aos meus braços. Tentei identificar de onde eles vinham, mas sumiam debaixo de minha cadeira.

"Alguém está aí? Alguém!"

Minha voz ecoou pelos espelhos. Olhei em volta. Ninguém me respondeu, mas sabia que estava sendo observada por trás daqueles espelhos.

Então a tela se acendeu e começou uma série de imagens. Começou com o filme Alice no País das Maravilhas. Eu não entendia a razão, mas algo estava sendo injetado no meu corpo, pois eu tinha uma sensação muito boa.

Então, abruptamente o vídeo foi cortado, e começou uma cena terrível de decapitações, assassinatos, acidentes. Eu estava horrorizada com aquilo. Mas ainda assim, a sensação boa continuava. Uma voz ecoava: "vá, Megan, vá para o País das Maravilhas!"

E então, um coelho branco apareceu na imagem, e caiu num buraco, onde a imagem o seguia. Era como se eu estivesse indo com ele para o País das Maravilhas. E o vídeo continuou.

A próxima interrupção mostrou vários vídeos pornográficos, onde uma mulher loira transava com vários homens diferentes. Algo foi injetado em minhas veias, e senti uma excitação fora do normal. O vídeo não parava, só mudava, apenas mostrando mulheres loiras, como eu, sendo encoleiradas, chicoteadas. A sensação boa voltou.

Então, o vídeo foi novamente interrompido. Começou uma série de várias imagens de mulheres bem vestidas, recatadas, elegantes, com esposos, filhos, família. Tudo aquilo veio assomado com alguma droga diferente, pois comecei a sentir náuseas. Dores horríveis, um mal estar, mas num limite em que eu me sentisse mal sem vomitar, sem nunca ter um alívio. Em seguida, novamente cenas de sexo, drogas que me induziam à excitação, seguida de cenas de sadomasoquismo, sensação de bem estar. 

Essa sequência continuou, sem que eu soubesse por quanto tempo, e eu pedia a Deus que só me mostrassem as cenas de sexo e sadomasoquismo, pois não queria mais sentir aquela sensação horrível de mal estar e náuseas.

Então, tudo parou. Uma droga foi injetada em mim, e eu me senti bem, até que dormi, suavemente.

***



Eu não sabia dizer quanto tempo fiquei naquele lugar. Eu não conseguia me situar, e a rotina da sala de espelhos se repetia com frequência. Eu tentava contar os dias pelos momentos na sala, mas às vezes eu era levada para lá à noite, às vezes durante o dia, e eu perdi a noção de tempo. Eu só sabia que meus cabelos nasceram novamente, e o tamanho indicava que eu ficara ao menos três meses naquele lugar.

O que estava acontecendo com minha carreira? O que estavam falando sobre mim na mídia? Será que me esqueceram ali dentro? Eu não tinha resposta para estas perguntas. Eu só queria voltar para casa, fazer meus shows, viver.

Haviam me dado um bicho de estimação para cuidar lá dentro da clínica. Disseram que era algo com o qual eu poderia me identificar e desestressar. Era uma contradição, afinal de contas, as coisas pelas quais eu tinha que passar realmente me estressavam naquele lugar.

Deram-me um gato. O nome dele era Snarf, e eu cuidava dele o tempo todo. Na verdade, ele só estava longe de mim quando eu estava na sala de espelhos. O resto do tempo, ele estava ao meu lado, no meu colo, nos meus braços. Acariciar seu pelo me deixava mais calma.

Um dia, eu vi, na sala de espelhos, imagens de mulheres vestidas como felinas, caminhando devagar, suavemente, como lindas gatas. Suas maquiagens eram de olhos de gato, e eram extremamente sensuais. Depois, mostraram imagens do meu gato e de outros felinos, como tigres, leões, panteras. Todos majestosos, e as imagens vinham combinadas com sensações de felicidade provocadas pelas drogas.

Snarf era minha companhia. Chegou um tempo em que eu mesma queria ser como aquelas mulheres, como uma gata, que consegue sempre o que quer, sensual, felina, misteriosa, bela.

Foi quando ocorreu o impensável. Depois de tanto tempo, apegada que eu estava ao bichano, eles o mataram. Exatamente. O mataram na minha frente, e eu não pude fazer nada além de gritar, espernear, e chorar.

Foi a pior coisa que já me aconteceu. Mas eu não podia fazer nada. Eu sentia falta de Snarf, e sabia que nunca mais poderia me apegar a outro bichano. Eu só queria voltar para casa. Faria qualquer coisa para voltar para minha antiga vida.

***

Finalmente, saí da clínica. Os momentos ali eram como um borrão. Eu não me lembrava direito o que aconteceu lá, só sabia que estava morrendo de saudade da minha casa, do meu quarto, das minhas coisas e principalmente, de minha carreira.

"Kim!"

Abracei minha assistente como se fosse uma grande e velha amiga. Ela sorriu para mim e retribuiu meu abraço.

"Tudo está perfeito, Megan."

"Ótimo. E onde está Anne?"

Kim ficou quieta um instante, como se observasse para ver minhas reações. Eu não entendi as razões daquilo, mas fiquei esperando.

"Anne está lá dentro."

"Ótimo. Quero saber tudo sobre a carreira, se vou poder voltar logo. Já fiquei muito tempo fora do ar. Preciso voltar. Estou sentindo muita falta de tudo!"

"Ela vai adorar saber disso."

Nós duas entramos em casa, e encontramos uma Anne sorridente e feliz. Ela tinha tudo planejado. Rapidamente, ela me mostrou a agenda, que recomeçaria no próximo mês. Mas tudo tinha um preço.

"Seu médico recomendou essas pílulas diariamente. Não pode deixar de tomá-las, Megan. É para o seu próprio bem, para não voltar a ter aquela crise."

Suspirei, pegando o frasco de comprimidos.

"Ok, Anne, não se preocupe. Quero fazer tudo direito."

Ela sorriu e voltamos aos nossos afazeres.

Poucos dias depois, eu já estava em estúdio, gravando meu próximo single. Anne prometera que minha carreira estava segura com ela, e tudo sairia bem. Eu confiei. Afinal de contas, por que não haveria de confiar?

E então, a agenda estava totalmente organizada. Ensaios com Little B, gravações com Eddie, e em breve o videoclipe oficial de minha nova música estaria no ar.

Eu só me sentia estranha por uma coisa. Era como se estivesse faltando algo, e um vazio tomou conta do meu peito. Eu tinha tudo o que eu queria, mas talvez nem mesmo soubesse o que eu queria mais. E era justamente isso, que eu desconhecia, que estava me faltando.



Share this:

JOIN CONVERSATION

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário