Fevereiro - Capítulo Três

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"Está tudo claro agora. É um prenúncio. Haverá um novo assassinato, isto porque tenho certeza que a primeira moça foi jogada de lá de cima. Preciso imediatamente da lista dos presentes no camarote."

Ângela falava sem parar. Os dois agentes a seguiam até o carro, mas ela não parava.

"Está claro. Quando as primárias girarem falava do momento em que o grupo de frevo iria se apresentar, e o início de todos os caminhos é o Marco Zero, claro, o local onde as sombrinhas girariam, que é esta noite. A perdida, a moça do grupo que está faltando, será quem me mostrará o destino. Ela me deu outro poema, mandado para o telefone da amiga."

"Estou acompanhando", disse o agente ao lado dela. "Mas e o restante do poema? Seu nome gotejar?"

"Sim. O nome dela, Carmem, indica a cor primária vermelha, que é a mesma cor do sangue. Inclusive, a cor do sangue é vermelho carmesim. Seu nome gotejar, significa que ela está em algum lugar agora mesmo sangrando até a morte. E precisamos chegar até ela antes que ela morra."

"Chegue antes de nada sobrar ou será seu desatino", concluiu o agente.

"Sim, isso mesmo."

"E como vamos saber onde ela está?"

Ângela leu em voz alta o outro poema, recebido pelo celular, enviado do celular de Carmem:



Nas paralelas solares
Estarei eu.
Na primeira sou bem vinda,
Na segunda sou adeus.
O poeta canta a vida
Que eu danço aos olhos teus.
Por favor, não se demore
Pois atrás do tempo estou.
Implacável ele escorre,
Tal como a minha cor.

O silêncio pairou no carro. Eles estavam quase chegando à delegacia, e um dos agentes falou.

"Ela está sendo drenada."

"Sim, está. Implacável o tempo escorre tal como o sangue dela que se esvai. Precisamos saber onde ela está, e sua localização está neste poema."

Desceram do carro e entraram na delegacia. Passaram pela confusão que se encontrava o saguão e foram diretamente para a sua sala. Os dois agentes ficaram para ajudar a resolver um problema de brigas no saguão e encaminhar um homem acusado de agressão a uma mulher até o andar onde funcionava a delegacia da mulher.

Ângela sentou-se e digitou o poema. Começou a observar cada frase, tentando encontrar uma conexão.

"As primeiras linhas informam onde ela está. Paralelas solares... paralelas solares..."

Uma escrivã entra.

"Quer um café? A noite vai ser longa..."

"Sim, Márcia, por favor. Ah, Márcia, pode me ajudar?"

A moça voltou. "Sim, claro, o que precisa?"

Ela se aproximou. "Você sabe de alguma coisa sobre paralelas solares? Digo, algum lugar no Recife, algo assim..."

A moça franziu o cenho. "Bem, paralelas solares... tem alguma outra pista?"

Ângela leu as frases:

"Nas paralelas solares
Estarei eu.
Na primeira sou bem vinda
Na segunda sou adeus."

Márcia riu. "Brincando de charadas agora?"

"Que é isso, Márcia, é importante! A vida de uma mulher depende disso. Ela está numa localização que o assassino dela escondeu nestas frases."

Ficando séria novamente, Márcia sentou-se ao seu lado. "Ok, vamos olhar isso aqui. Paralelas solares... devem ser ruas, já que se tratam de localização. São duas ruas paralelas."

"Ok", completou Ângela, entendendo o raciocínio de Márcia. "Se são duas ruas paralelas, elas são solares... elas se complementam, certo? Digo, devem ter nomes parecidos, ou algo assim, as duas são solares, as duas têm o mesmo tema: o sol."

"Rua do Sol!" gritou Márcia.

"Rua do Sol?"

"Sim, claro! A Rua do Sol é paralela à Rua da Aurora, e foram batizadas com esses nomes porque uma delas recebia os primeiros raios da manhã e a outra, os últimos raios da tarde!"

"Na primeira sou bem vinda... é a Rua da Aurora", disse Ângela, com espanto.

"Na segunda sou adeus. Rua do Sol. A rua do poente. Duas ruas paralelas e solares", concluiu Márcia, contente consigo mesma.

"Você tem razão, Márcia. Ela está por ali... mas são ruas grandes, como vou saber onde?"

Tamborilando os dedos na mesa, leu o restante do poema.

"Deixe-me ver o resto", disse Márcia, aproximando a cadeira. "O poeta canta a vida que eu danço aos olhos teus."

As duas pararam para pensar. Então, Márcia teve uma ideia. "Existem estátuas de poetas pernambucanos espalhadas pelo centro do Recife. Deve ter alguma dessas estátuas numa dessas duas ruas."

Ângela abriu o site de busca e procurou pelos poetas. Sim, havia muitos deles espalhados, um na Rua do Sol, dois na Rua da Aurora, um na ponte Maurício de Nassau, que liga as duas ruas.

"Precisamos de um poeta ligado à música", falou Márcia. "O poeta canta a vida que eu danço aos olhos teus".

"A moça perdida é uma passista de frevo."

"Capiba." disse Márcia simplesmente. "A estátua de Capiba está na Rua do Sol, e é aqui perto."

Ângela ficou de pé e pegou seu rádio, chamando um agente para segui-la. "Obrigada, Márcia. Você foi de grande ajuda. Ah, e dispenso o café."

Saiu da sala.

***



Chegou próximo à estátua de Capiba e olhou para ele. O poema dizia que a moça dançava aos olhos dele. Olhou para onde ele olhava, em direção à Avenida Guararapes, e viu muitos prédios.

"Droga, são muitos, com muitos andares. Ela está se esvaindo, como vou achá-la?"

Leu novamente o poema. "O poeta canta a vida que eu danço aos olhos teus. Por favor, não se demore, pois atrás do tempo estou. Implacável ele escorre, tal como a minha cor." Bateu na própria perna. "Droga, aqui não diz nada! A vida dela está escorrendo, e o tempo está passando! Como vou saber qual destes prédios? São muitos!"

Olhou para todos eles. O prédio onde estava o camarote de onde a primeira garota se jogou aquela manhã? Poderia ser. Olhou o segundo prédio, uma faculdade. O terceiro, inúmeros andares vazios, alguns ocupados com comércio. Como saber qual deles? Olhou para o outro lado da rua, também vários edifícios com andares comerciais, alguns residenciais. Exceto o grande edifício na esquina da Guararapes com a Rua do Sol, onde funcionava o edifício da Central dos Correios. Este era todo ocupado pela Empresa de Correios e Telégrafos do Recife. No alto, um grande relógio.

"Pois atrás do tempo estou..."

"Este é o lugar! Atrás do tempo! Vamos, ela está no andar correspondente ao relógio! Ela está atrás daquele enorme relógio!"

O edifício estava fechado, e pelo rádio, Ângela entrou em contato com a delegacia e exigiu uma ordem para entrada. O tempo corria, implacável como dizia o poema.




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