Fevereiro - Capítulo Quatro

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A demora quase enlouquecera Ângela. Assim que tivera a confirmação por telefone do mandado, invadiram o prédio e correram para o interior do edifício. O primeiro salão de atendimento a clientes tem o pé direito alto, e ela os conduziu para trás dos balcões, onde havia uma escada que os levava diretamente ao Museu de Filatelia da empresa.

"Carmem!" gritou Ângela, mas só havia silêncio no interior do prédio. Ao longe, podia-se ouvir as músicas vindas do Marco Zero e outros polos carnavalescos do centro. "Droga!"

"Está aqui!" gritou um dos agentes e ela correu em direção à voz, encontrando uma mulher nua, usando apenas uma meia máscara veneziana vermelha. Do braço, um tubo, de onde escorria as últimas gotas de sangue dela.



"Onde está o paramédico?" Ângela gritou. "Agora!"

Correu para o lado da mulher. "Carmem, acorda, Carmem!" Tirou dela o tubo e mandou que o agente fizesse pressão. Um paramédico entrou em seguida e ela se afastou. Olhou em volta à procura de algo. No pé direito da mulher, amarrado a um cordão, um pedaço de papel enrolado. Tirou-o. Dois socorristas chegaram para levá-la. Esperava que ela se salvasse, mas o socorrista fez-lhe um sinal. Ela havia morrido.

"Merda!"

Tinha chegado tão perto! Olhou em volta. O assassino ria em sua cara, sabia disso. Desenrolou o papel, onde havia outro poema, outra charada. "Quero a perícia fazendo seu trabalho por aqui. Estou voltando pra delegacia."

***

Ângela não se conformava. Aquele assassino estava brincando com a polícia, levando-os de um lado a outro, com charadas e enigmas enquanto pessoas morriam. Abriu e leu o poema encontrado no corpo de Carmem.

A primeira já se fora
Já não há tempo a perder.
A segunda brilha, brilha
Faz a dança acontecer.
Atente! Acorde!
O que isto quer dizer?
Quem vai querer frevar?
Quem vai querer frever?

A Guerreira do Destino Oeste
Lhe diz onde correr
Busque o antigo e perdido portal
Onde a esperança costumava receber.

Antes que sua flor
Espalhe afiadas pétalas
No momento que sua cor
Parar de subir e tiver que descer.

Foi à sala dos escrivãos e viu Márcia registrar uma ocorrência. Fez sinal para ela. "Preciso de sua ajuda de novo."

"Conseguiu?"

Fez sinal negativo. A consternação no rosto dela foi clara. "Irei em seguida."

Voltou para sua sala e caminhou de um lado a outro. Ecoou uma das frases do poema. "O que isto quer dizer?"

Alguns minutos depois, Márcia entrou com uma garrafa térmica. "Medidas extremas pedem dose extra de cafeína."

Serviu duas xícaras generosas e deu uma a Ângela, sentando-se ao computador em seguida. "Venha, vamos analisar isto aqui." Leu o poema no papel ao lado do mouse. Leu e releu.

"Ele sabia que você não chegaria a tempo. Estava contando com isso. E aqui ele dá as instruções para a próxima."

"Precisamos descobrir onde ela está" disse Ângela, sentando-se ao seu lado. As duas se puseram a ler.

"Veja. A primeira parte fala da que morreu, Carmem, e da próxima, uma desconhecida. Se a Carmem representa a cor vermelha, só nos resta o amarelo e o azul para a próxima."

"Amarelo", disse Ângela. "Ela deve ser o amarelo. O poema fala de brilho."

"Ok, vamos entender que a cor é amarela. Mas o que isso importa para nós? No vermelho, o sangue se esvaía. O que temos no amarelo que seja algo ruim?"

"Márcia, posso enumerar muitas coisas ruins amarelas. E todas queimam."

Márcia ficou parada olhando para Ângela. "Isso. Queimar, arder, fogo! Só pode ser isso!" Márcia voltou a ler. "A última estrofe não parece uma explosão de fogo? Antes que sua flor espalhe afiadas pétalas?"

"Uma explosão, talvez..." Ângela concordou. "Mas o restante parece um horário. Neste caso, acho que sei o que é." Releu-o. "No momento que sua cor parar de subir e tiver que descer. O sol. O sol está a pino, para de subir no céu e começa a descer para o poente. O sol amarelo, é isso. Fogo, ao meio-dia! Temos tempo, podemos chegar lá antes de acontecer!"

"Mas onde?"

Começaram a vasculhar o poema, mas não conseguiam identificar o local. "O que isto quer dizer?"

***



Os sons do Marco Zero já haviam silenciado há tempos e as duas continuavam debruçadas sobre o poema. Várias teorias haviam sido testadas, mas não havia moça nem bomba em lugar nenhum. Já haviam ido para o oeste da cidade, mas a Guerreira do Destino não era encontrada.

"Estamos vendo tudo de uma forma errada" disse Ângela. "Deixamos passar alguma coisa, e não temos mais tempo. Fogo ou explosão, é o que esse poema promete. Precisamos encontrar esse lugar já!"

O sol já nascera, e o dia estava bastante claro. Márcia olhou para sua janela, e, apesar de não poder ver o mar, sentiu o cheiro da água salgada. Voltou-se para Ângela, que continuava espreitando as palavras. "Acho que estamos procurando o oeste a partir do ponto errado" disse ela, de modo pensativo, atraindo o olhar da delegada.

"Como assim?"

"Estamos procurando o oeste do polo carnavalesco, a partir do nosso Norte, mas talvez não seja um Oeste natural. Aqui diz "Guerreira do Destino Oeste". Não é uma Guerreira do Destino que fica no Oeste, mas uma Guerreira que está no Destino Oeste. Um destino a partir de um ponto."

Márcia continuou pensando, mas não lhe ocorria nada. Enquanto isso, a manhã avançava.

Procurou no computador o outro poema. "Veja aqui, o primeiro poema. Quando as primárias girarem no início de todos os caminhos". Olhou para Ângela. "É o destino oeste a partir do Marco Zero. É de lá que devemos encontrar esse destino."

Ângela já estava a caminho da porta. Márcia a seguiu. "Desta vez vou com você."

Havia muita gente no centro novamente, mas o movimento era menor durante as manhãs. De toda forma, o Marco Zero, sem shows aquele momento, já estava quase vazio. Ângela e Márcia estavam de pé no tampo de bronze que marcava o centro dos caminhos do Recife. Olhou diretamente para o mar. "Pois bem, definimos que aqui está nosso leste." Virou-se de costas para o mar e olhou a avenida à sua frente. "E aqui está nosso oeste. Agora temos que encontrar uma guerreira para nos mostrar o caminho."

Olharam para a escultura acima de um dos prédios, mas ela apontava para cima. "Não pode ser esta", disse Márcia, mas Ângela já caminhava em direção àquela rua. Seguiu-a. Pouco depois, chegaram à ponte Maurício de Nassau. Olhou para cima e viu, em cada vértice da ponte uma estátua. Mas, onde estava, podia ver a estátua mais próxima. O mais impressionante é que todas elas traziam consigo algum objeto, algum símbolo. Mas esta não trazia nada. Apenas um elmo na cabeça.



"A Guerreira!" disse Ângela. Márcia acompanhou seu olhar, que pousava nas mãos da guerreira. Uma de suas mãos estava estendida à frente, de onde elas vieram, como se as recebesse. A outra mão se erguia à sua direita, com o dois dedos apontando para uma direção. "A Guerreira nos mostra o nosso destino!"

Postaram-se debaixo das mãos da guerreira e olharam na direção apontada. Vislumbraram a única construção daquela localidade que era toda na cor amarela, e resplandecia com o sol quase a pino.

"O Paço Alfândega!" sussurrou Ângela.

Márcia já corria em direção ao shopping. Quando chegou próximo a ele, estacou. Olhou para o alto do prédio, onde o sol estava se colocando.

"Onde vamos encontrar o antigo portal?" disse ela apontando para o edifício. "Isto aqui era a Santa Casa, e é cheio de entradas! Cada porta tem um número, todas elas são antigas! Como vamos saber qual é a verdadeira?"

"Eu não sei", disse Ângela chegando, acompanhada dos agentes. "Mas vamos ter que saber rápido. São quase meio dia, e algo vai acontecer. Não quero perder mais essa moça."

Olharam para as portas numeradas, e então Ângela sabia o que fazer.


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