Nas Curvinhas de Tua Cabeleira



Olha só o teu sorriso! Olha só o teu balanço! Teu olhar tão brilhante carregando a alegria de tua alma! Olha só os teus cachinhos, as curvinhas de tua cabeleira! Como é linda! Como é bela!

Mas nem sempre foi assim, não foi, menina linda?



Seus cachinhos tão lindos começaram a crescer, encrespar-se, enroscar-se, enrolar-se e formar-se. Mas, que pena! Não deixaram você ver, não deixaram você gostar, não deixaram você amar aquilo que faz parte de você...



A mamãe não gostava dos cachinhos, porque ficavam armados. Em vez da beleza e do volume, a moda era segurar, diminuir, conter toda a exuberância que eles possuíam. Todos os dias, você via a mamãe pentear, alisar, chapear, porque assim era mais "bonito", mais "arrumado". Quando ia para a escola, a mamãe puxava e repuxava seus cachinhos, para que ficassem bem presos, tristes, enfurnados em algemas elásticas.



Ao acordar, com os cachinhos soltinhos, brincavam com você: "Levou choque?" e lá iam diminuir o volume, repuxar para que ficassem "comportados" os cachos mais belos que emolduravam o quadro de seu rosto.



Nas festinhas, lá vem a escova, quente, dura, puxando e machucando, destruindo muito mais que fibras capilares; destruindo a auto estima, para que não visse a beleza de seus cachos do jeito que eles eram. E assim, seres que só viam a beleza no liso transformaram sua beleza em arremedo de outras pessoas.



Entre suas bonecas, nenhuma tinha cachinhos. Todas de cabelinho lisinho. Como você poderia achar-se bela, se nem elas eram assim?



E assim você foi crescendo e negando sua beleza, acreditando que a beleza estava na mudança... Pobre menina! Quantas vezes acordou mais cedo para esconder suas curvinhas e torná-las lisinhas antes de ir à escola? Quantas vezes foi ao salão para algo definitivo, quantas vezes alisou, mexeu, transformou seus cabelos tão lindos?



Até que um dia, você viu a si mesma, encontrou-se, viu-se, e mirou-se como realmente deveriam ter deixado desde sempre. E as curvinhas de sua cabeleira ainda estavam lá, em algum lugar, esperando para emoldurar seu rosto lindo.



Por um breve período, em que lutou contra si mesma, e contra tudo o que tinha colocado em seus fios durante anos, finalmente, eles voltaram! As molinhas, fofinhas, lindas estavam de volta!



Mas agora, é poderosa, cacheada, e terá suas próprias filhas. E estas serão criadas de outra forma: amando sua própria beleza, e sabendo tratá-la com respeito, amor e muita alegria.



Pois é assim que tem que ser, não é?




Texto de Débora Falcão.

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4 comentários:

  1. Debora Linda! Acompanho suas crônicas de Forks no Nyah e parei na quarta crônica da segunda temporada.. quando você irá conitnuar?????????

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    1. Vou tentar continuar por aqui e por lá... é que estou tão atarefada com os meus novos livros e com a revista literária que acabei ficando sem tempo!

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