Notícias - Ruth Rocha critica Harry Potter e Literatura Fantástica



Pois é. Ruth Rocha é uma escritora talentosa, com mais de 120 livros, autora premiada, está completando 50 anos de carreira aos 85 anos de idade. Uma autora consagrada de livros infantis.

Em entrevista ao site IG, que você pode ler completa AQUI, a escritora afirma que Harry Potter não é literatura.


O primeiro erro da entrevistada é dizer que a criança não mudou quase nada dos anos 60 para cá. Dizer que quem mudou foram os adolescentes, mas as crianças são as mesmas, e ela pode verificar isso a partir da venda de seu livro Marcelo Martelo Marmelo, um livro que escreveu em 1969. O livro a que ela se refere é o livro mais pedido para crianças em escolas, principalmente alunos do 1º e 2º ano. É um livro paradidático quase obrigatório, por isso a venda alta. Indicar que as crianças não mudaram de 1969 para cá por causa das altas vendas deste título é no mínimo pretensioso, já que as crianças não escolheram ler este livro, nem os pais, e sim a escola.



Mas o pior erro ainda estava por vir. A autora disse que best-sellers que misturam fantasia com a presença de ícones fantásticos, como vampiros e bruxas, não são literatura.

"Isto não é literatura, isto é uma bobagem. É moda, vai passar. Criança deve ler tudo, o que tem vontade, o que gosta, mas eu sei que não é bom."

Afirmar que ficção fantástica não é literatura é negar tantos e tantos livros infantis da nossa própria literatura, tais como "Onde Tem Bruxa Tem Fada", de Bartolomeu Campos Queirós; "A Bruxa e o Caldeirão" de José Leon Machado; as coleções "Surileia Mãe Monstrinha" e "A Bruxinha Atrapalhada". E o que dizer do Pequeno Príncipe, com sua fantasia, sem bruxas e fadas, mas cheio de animais falantes e um príncipe de uma terra distante? E os clássicos como Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderella, A Bela Adormecida, e tantos outros que encantam crianças há mais de um século com bruxas, fadas e reinos encantados?



A autora foi muito infeliz em seu comentário, dizendo que além de esse tipo de literatura não ser literatura, dizer que é uma MODA.

O que dizer de Machado de Assis, que na fase do Romantismo escreveu Iaiá Garcia, A Mão e a Luva e o tão famoso Helena? E quando ele mudou sua fase e escreveu, no Realismo, os livros Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e Memorial de Aires? Seria Machado de Assis um seguidor de modismos?

Qual o problema com a moda? Qual o problema em seguir um estilo literário em voga no momento? O fato de um autor se dar muito bem naquele estilo e vender muitos livros significa que aquele estilo é ruim?

Há hoje muitos autores ruins, é verdade, e que vendem livros no mínimo questionáveis, não pelo estilo em si, mas porque são ruins mesmo, e têm ótimos agentes literários e editoras que movem montanhas pela divulgação. Mas não podemos segregar ou generalizar estilos por causa de uns poucos, nem mesmo agir com preconceito.

Foi isso o que Ruth Rocha fez.

Quem és tu, criatura?


Eu não tenho nenhum problema com autores tarimbados. Existem autores muito bons, premiados, mas que são preconceituosos e não conseguem ver um autor mais novo, com menos tempo de carreira, vendendo mais do que sua própria carreira inteira conseguiu vender.

Ruth Rocha é uma autora infantil, muitos livros dela são ótimos, outros só são vendidos porque são adotados por escolas. Isso faz dela uma pessoa acima de qualquer crítica, capaz de diminuir todo um estilo literário só porque não gosta?


Eu não li os livros de Harry Potter, os quais ela diz que não são literatura. Não os li não porque não ache que são bons livros, mas porque na época em que foram lançados eu estava lendo outros estilos e não me interessei. Por isso não posso dizer se são ou não bons livros. Mas isto eu só saberia lendo-os. Eu não posso dizer que são maus livros porque são livros de fantasia e são modinhas. Eu sei que existem muitos livros bons no estilo, assim como existem muitos livros ruins e sem graça dentre outros estilos. Só por isso não posso taxar ou rotular um estilo disso ou daquilo por causa da moda.

Os escritores clássicos da nossa literatura e que escreviam no estilo Realismo/Naturalismo viviam criticando os escritores clássicos, da nossa literatura, e que escreviam no estilo Romântico ou no estilo ainda anterior, Barroco.

Só por isso são ruins?

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7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Débora!

    Concordo plenamente com vc. Tbm não li os livros de HP, mas acredito que antes de tudo, devemos respeitar o trabalho do outro. Infelizmente, creio que ela irá perder muitos leitores por causa dessa infeliz afirmativa.
    Nossa literatura é rica em todos os gêneros e não vejo motivo para autores atacarem autores desta forma. Uma pena... Eu li alguns livros dela na escola, e são bons, mas é como vc disse, ela só vende muito porque seus livros são solicitados, em maioria, nas escolas. Nunca comprei um livro dela, sempre preferi as fantasias!

    Enfim, ótima crítica, parabéns!

    Bjo bjo^^
    www.livrosdeelite.blogspot.com

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  3. Não podemos confundir ESTILO LITERÁRIO com MODELO DE HISTÓRIA IMPLANTADA!
    Não importa se a história envolve Bruxa, Lobo Mau ou um Personagem Ilusionista, como HARRY POTTER!
    Toda Arte tem seu "Alicerce" Histórico, senão, as "Escolas" Teóricas não existiriam para enriquecerem o Estudo, delas, para formarem-se os Técnicos Universitários para darem continuidade aos Trabalhos manifestados há Seculos por Atores, Artistas Plásticos...Isto que existe hoje é consequência do Mundo Moderno que se expande, mas não podemos esquecer que o Fundamento da Arte não pode morrer nem que seja pelo que a Autora Ruth Rocha denomina "Modismo"!

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  4. Seguindo a mesma falácia, poderíamos afirmar que obras infantis não são literatura. São puro modismo. Que o interesse pela obra termina rápido entre seu público alvo, o que diminuiria sua importância. Poderíamos afirmar que qualquer obra realista não é literatura. Que clássicos de todos os gêneros não são literatura (e poderíamos enumerar uma série de argumentos igualmente falaciosos para embasar nossa crítica).
    O que existe é boa e má literatura (e mesmo assim, condicionados a critérios totalmente subjetivos).
    Ruth Rocha segue os passos equivocadas de muitos outros que, movidos por pura arrogância, afirmam a mesma coisa. Sua opinião é negligente e deve ser esquecida.
    Talento ela tem, falta-lhe apenas bom senso.

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  5. Na minha opinião, cada um ler o que gosta. Não gosto de Harry Potter, mas respeito quem gosta de ler. Gosto mais da literatura clássica. Ela foi infeliz em seu comentário. Lamentável.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. O que é Literatura? Ou antes, O que é Arte? Qualquer um que se arvorar a dizer que sabe definir esses conceitos é, no minimo, um tolo. Eu não chamaria "Cinquenta tons de Cinza" de literatura, embora seja um livro muito bem vendido. Para mim é apenas um fanfic que usa a velha formula de Shakespeare, com toques (surreais) de um suposto sado-masoquismo. Não acho que Paulo Coelho é um bom escritor, mas vejam, o cara é um Acadêmico! E tem até alguns bons livros.Meu DEUS, o cara se diz bruxo, usa elementos de fantasia em suas histórias, deveria ser expurgado da literatura por isso?
    Harry Potter li a coleção completa, e vi vários adolescentes lendo e comentando (também liam Cinquenta Tons) nas escolas em que dei aula de Letramento (aquela coisa de ensinar a ler apreendendo o sentido do texto, que tão poucos conseguem na atualidade).
    Ruth Rocha só cheguei a ler (rapidamente) na Pós-Graduação, entre outros autores nacionais.
    O que as crianças devem ler? Na minha opinião, o que acharem interessante, o que se identificarem, o que desejarem comentar e divulgar para os amigos. ISSO, para mim, é literatura, algo que é feito por uma comunidade letrada para a comunidade letrada, de qualquer tempo e lugar. Literatura é, no meu conceito, a comunicação textual que transcende o tempo e o espaço, porque fala de leitor para leitor, de pessoa para pessoa.
    Que importa se há animais falantes (fábulas), lobisomens, vampiros, sacis, bruxas, magos e fadas (elementos do folclore internacional), lendas urbanas, etc. Que importa se o veículo é uma HQ ou um calhamaço de 500 páginas? Tolkien falou de bruxos, duendes, dragões, espiritos malignos, elfos, anões, para descrever um mundo em guerra há muito tempo (isso durante a guerra verdadeira) e é o livro mais lido deste milênio! Não é Literatura?
    Acho triste quando um autor, ainda mais um que busca falar para as crianças, desautoriza e diminui a importância da simbologia do fantástico, do sobrenatural. Fico imaginando que Jung deveria ser apresentado para essas pessoas, de forma que pudessem entender a importância da representação mítica no desenvolvimento do caráter, da personalidade. Joseph Campbell, seria um bom começo, se a psicologia também for considerada como uma "bogagem". Talvez então, a autora voltasse a achar que Monteiro Lobato é literatura, embora tenha bruxas e sacis. Mas não seria eu a proibir que as crianças lessem Ruth Rocha, apenas colocaria os livros dela junto com muitos outros para que os próprios leitores escolhessem e divulgassem seus autores preferidos, e que assim se fizesse, de fato, Literatura.

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