Sombras da Meia-Noite - Capítulo Um

Esta história é uma livre inspiração no universo de Vampiro - A Máscara, e não tem qualquer interesse financeiro na publicação. Trata-se do gênero "Fanfiction", e não infringe nenhuma lei de Direitos Autorais. Os personagens foram criados por mim e vivem no universo RPG baseado no sistema Storyteller, publicado originalmente por Mark Rein Hagen em 1991 pela Editora White Wolf. Nem todo o universo trata-se de Vampiro - A Máscara, há nuances criadas por mim e apenas alguns clãs entram na história.

ATENÇÃO: Esta história é CONTINUAÇÃO de Olhos da Meia-Noite. Se você ainda não leu, clique AQUI.




O silêncio do luxuoso cemitério Parque Sete Torres demonstra apenas para os trabalhadores daquele turno que todos os mortos descansam. Mas as aparências enganam. Nem todos os mortos dormem.

Dentro de um mausoléu, o vampiro caminha majestosamente entre dois lacaios, sua capa negra tocando o chão de mármore. Os três se aproximam de outro lacaio, este com os braços e pernas amarrados a uma cruz de madeira na parede. A iluminação do ambiente é escassa, apenas com velas que alguém deixara ali ao rezar seus mortos.

— Continua me negando o direito de saber o que quero?

A voz de trovão ecoa no ambiente. O lacaio limita-se a balançar a cabeça afirmativamente.

— Já vi que vou ter que te mostrar do que eu sou capaz, lacaio de merda!

— Eu não tenho medo de você!

Ante a abrupta resposta, o vampiro sorri.

— Não? Pois deveria ter.

Virando-se, os olhos de Lázarus tornam-se vermelho-sangue.

— Deveria ter muito medo de mim.

— Não direi onde escondi o corpo de Milena.

— Você foi muito ingênuo em não ter destruído o seu corpo. Posso trazer Milena de volta à vida... se é que podemos chamar isso de vida.

— E por quê trazê-la de volta à vida?

— Deixe as perguntas para mim!

Lázarus caminha vagarosamente, aproximando seu rosto do rosto do antigo lacaio de Lady Anthonya.

— Onde está o corpo de Milena?

— Não direi!

O lacaio começa a gritar, seu rosto contorcido de dor. Lázarus controla sua corrente sangüínea, deixando-o quase louco.

— Eu sei que isso dói. E posso fazer muito mais a você.

Lázarus baixa a mão, o pobre pára de gritar, ofegante.

— Você vai me dizer o que quero, nem que para isso eu tenha que te matar. E eu não faço questão nenhuma disso.

— Pode me matar. Nunca vai saber. Eu fiz um feitiço. Nunca vai achar o corpo dela.

Lázarus grita. Um grito horrendo. Seus olhos ficam vermelhos, seus caninos crescem. Voa para cima daquele lacaio, do qual sentia profunda repugnância. Com sua voz distorcida, fala com o rosto bem perto do dele.

— Eu posso fazer horrores com você. Você nem ao menos é um vampiro! Nem possui casta! Você é apenas um servo. Agora me diga onde escondeu Milena, qual o feitiço e as palavras, eu a quero para mim!

— Terá que roubá-lo de mim, eu não direi de espontânea vontade.

Lázarus volta ao normal, fica de pé diante de lacaio e retoma seu diálogo com voz calma.

— Não seja por isso.

Lázarus estende as duas mãos e segura a cabeça do servo, que começa a gritar. Nitidamente, as imagens passam pelos olhos de Lázarus; podia ver através dos olhos dele. Está em um lugar diferente, bastante árido. No chão seco, o corpo de Milena. A voz do lacaio soa de sua própria garganta:

— Gedan Dart, Paranã-Pukana. Gedan Dart, Paranã-Pukana.

Enquanto isso, o corpo de Milena se dissolve na areia, e desaparece, misturando-se ao chão.

Lázarus olha para o lacaio, ainda de olhos fechados, repetindo as palavras do feitiço:

— Gedan Dart; Paranã-Pukana.

Lázarus solta a cabeça do lacaio e sorri. Este abre os olhos, assustado, percebendo o que fez.

— O feitiço da dissolução do corpo. Muito engenhoso. Você aprendeu bem o Holf Toschia.

O lacaio segue os movimentos de Lázarus, que caminha calmamente pelo mausoléu.

— E, segundo me consta, aquele tipo de areia só existe em um lugar do mundo. Bem, você foi bastante eficiente, mas não me é mais importante.

— Isso é o que você pensa.

Lázarus hesita um instante.

— O que quer dizer? Tenho o local exato onde está o corpo de Milena e tenho as palavras.

— Que só poderão ser ditas por mim.

— O... o que está dizendo?

— Imaginei que alguém quisesse roubar o corpo de minha ama. Escondi. Imaginei que alguém roubasse de mim o meu segredo. Então...

— Você...

— Usei meu sangue durante o feitiço.

Lázarus sorri, mas seu interior é como um vulcão, entrando em erupção. Então, é tomado pela raiva e explode em ira, voando até o teto do mausoléu, rugindo como um animal raivoso.

— Zían von Ahzan! Maldição! Ah! Behav dart Milena!

Lázarus voa em direção ao lacaio preso, olhos vermelhos, caninos crescidos.

— Eu quero o corpo de Milena! Eu não serei mais gentil com você!

Com os olhos voltando ao normal, caninos retraídos e voz calma, caminha próximo ao lacaio.

— Serei bastante cruel. Mas serei cavalheiro o bastante para dizer o que farei com você. Primeiro, uma lavagem cerebral. Depois, quando tiver o corpo de Milena comigo, eu vou trucidá-lo, te deixar para os abutres comerem. No sol. Sem piedade.

— Será a única maneira de obter qualquer coisa de mim, Lázarus.

— Que seja.

***



Num descampado, bastante árido, caminha a pequena comitiva, contrastando com a paisagem. Lázarus à frente, guiando o caminho, e seus dois lacaios, conduzindo o antigo servo de Milena e Lady Anthonya, totalmente demente.

— Eu tinha certeza que encontraria este lugar.

Se aproximando de uma vegetação rasteira, Lázarus confirma suas suspeitas.

— O único lugar do planeta com este tipo de vegetação. O Sertão Brasileiro.

Respirando fundo, Lázarus sente que está muito perto. Chega a sussurrar.

— Ah, Milena, estou chegando perto. Uma Tremere sempre terá cheiro de Tremere, morta ou não.

De repente, todos param.

— Aqui! Aqui é o lugar! Eu tenho certeza!

O vampiro tem tanta certeza que pode sentir a presença inexistente de Milena. Lázarus se aproxima do lacaio e faz um ferimento em sua mão, deixando escorrer o sangue.

— Agora diga as palavras do feitiço.

Com voz automática, o lacaio repete as palavras que usara para proteger, e agora serão usadas para o mau.

— Gedan Dart Milena Ocará.

Nada acontece.

— Anda, idiota. Dizer apenas que está neutralizada a dissolução do corpo de Milena não adianta. Seu jumento!

O lacaio não se move. Ainda sob o jugo da demência do Malkaviano, luta com todas as suas últimas forças. Mas não é o suficiente.

— Diga todo o feitiço, agora mesmo!

— Gedan Dart Milena Ocará. Paranã-Pukana.

Um vento sopra forte.

— Está funcionando! Fale novamente!

— Gedan Dart Milena Ocará. Paranã-Pukana.

Alguns grãos de areia começam a se juntar, formando um montinho, depois um monte, na horizontal. Lázarus sorri. O vento continua. O monte começa a tomar a forma do corpo de Milena, o rosto, o nariz, o pescoço. Elevam-se os seios, afina-se a cintura, as pernas são formadas. A escultura do corpo de Milena fica pronta. Os grãos começam a unir-se, formando sua pele. Lázarus contempla, anestesiado, o corpo nu de Milena estendido aos seus pés, os cabelos negros e compridos brilhando à luz da lua.

— Embairah. Perfeito.

Lázarus olha para o lacaio demente. Ele não move um músculo.

— Cuidem dele.


Share this:

JOIN CONVERSATION

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário