Sombras da Meia-Noite - Capítulo Dois

ATENÇÃO: Esta história é a CONTINUAÇÃO de Olhos da Meia-Noite. Se você ainda não leu, clique AQUI.

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Um círculo de homens e mulheres vestidos de preto aguarda no centro da sala, totalmente branca, sem móveis, sem decoração. Simplesmente branca, paredes, teto e chão. Todos contemplam o centro do círculo, onde está o corpo de Milena, amarrado de pé num gradeado de ferro. Seu rosto bastante pálido, seus cabelos mais negros que nunca.

Lázarus e seus dois lacaios entram na sala, todos o contemplam.

— Bem, todos estão preparados para o retorno de Milena?

Todos respondem “Sim”, à uma só voz. A ansiedade era geral. Muitos ali conheciam Milena apenas de ouvir falar. A maioria ainda estava na fase da Criança da Noite, e não chegaram a conhecer Milena pessoalmente. Mas agora, o corpo dela estava ali, e era muito mais bonita do que como imaginavam. E muito poderosa também. Para todos era um momento único. Para Lázarus, muito mais do que isso.

— Eu tenho esperado por este momento há meio século!

Lázarus se aproxima do corpo de Milena e verifica que está bem preso. A toca no rosto.

— Vocês não a conheceram como eu. Nem conheceram alguém como ela. Milena é um dos poucos vampiros da sétima geração. Os vampiros que povoam o planeta são da décima geração em diante. Milena é muito forte e muito poderosa.

Lázarus caminha um instante em silêncio dentro do círculo. Todas as atenções estão concentradas nele e em Milena.

— Eu matei sua senhora. Uma francesa que vivia no Brasil desde os tempos do Império. Ela era da sexta geração e eu a exterminei. Foi tão fácil! Ela estava fraca! Queria se tornar humana!

Todos riem.

— Milena também havia cometido um erro. Se apaixonou por um humano. E eu o matei, mas ela o transformou em vampiro, que acabou morrendo por falta de sangue. Os dois tentaram a humanidade de Lady Anthonya. Que idiotas!

Lázarus pára em frente ao rosto de Milena.

— Patético. Morrer. Mas eu a trarei de volta.

Lázarus faz um corte em seu braço e deixa que seu sangue escorra para os lábios de Milena. Depois, se afasta, e todos observam.

Milena, ainda de olhos fechados, abre a boca, seus caninos crescem. Rapidamente abre os olhos verde-água, agora brilhantes, e velozmente abre os braços e as pernas, destruindo a grade de ferro que a prendia, jogando pedaços para todos os lados. Não há tempo para pensar: Milena voa rapidamente contra Lázarus e agarra seu braço, sugando seu sangue. Seu movimento é tão brusco que não há como parar: os dois acabam contra a parede, Milena pressionando-o.

— Pare!

O ímpeto de Milena é muito mais do que Lázarus pode suportar. Quando finalmente o larga, Milena voa no sentido contrário, de costas, contorcendo-se no ar. Todos na sala observam-na impressionados. Milena olha para um homem, trazido pelos lacaios de Lázarus, e voa imediatamente para ele, erguendo-o no ar, mordendo-o, sugando o seu sangue. Quando o solta, seu corpo cai no chão, sem vida. Os dois lacaios o arrastam, deixando um rastro de sangue.

Calmamente, Milena desce ao chão, de pé, de costas para Lázarus. O silêncio impera, quebrado pela voz há muito adormecida de Milena.

— Ah! Lit von Ahzan! - Sono de Morte! -

Lázarus caminha para o círculo, ainda atordoado.

— Ana Sana Ante. - Eu despertei você. -

Milena sorri.

— Ana trus ante behav luv von ana. - Eu acho que você quer me pedir algo. -

— Sáin. Ana behav ante lofta mar farmess.- Sim. Eu quero que você seja minha esposa. -

Milena sorri e vira o rosto, olhando diretamente para os olhos de Lázarus.

— Ahia! Lofta ana bonnie Malkavian azez hassal?- Olhem! Estou ouvindo um Malkaviano falando grosso? -

Lázarus não gosta das palavras de Milena.

— Meu nome é Lázarus.

— Não passa de um Bon Vivant. Para mim, um pobre vampiro, sem nenhum poder.

Aquilo era o máximo que podia suportar. Seu controle estava no limite. Sem conter-se, grita para Milena!

— Eu sou um poár holf!

Mas o sorriso sarcástico de Milena não deixa seu rosto.

— Um vampiro poderoso? Faz-me rir. Um Malkaviano da décima segunda geração querendo se impor a mim?

— Eu a trouxe de volta! Eu tenho direitos sobre você!

— Eu sempre serei uma Tremére! Você apenas me despertou. Continuo sendo da sétima geração de vampiros.

Milena olha em volta, com ar superior.

— Por acaso estes são os associados de seu clã?

E sorri, sarcasticamente, olhando para cada um dos presentes.

— Sinto o cheiro deles... fracos! Todos eles foram abraçados por você! Acha que podem me deter? O que quer? O que pretende sendo meu esposo?

Milena caminha ameaçadoramente devagar, sem desgrudar os olhos de Lázarus, aproximando-se dele.

— Quem vai me convencer?

— Eu.

A voz ecoa no fundo da sala. Milena nem precisava ser auspício para reconhecê-la. A constatação paralisa todos os músculos dela. Lázarus aproveita a oportunidade.

— Eu queria fazer uma surpresa, mas você me impediu...

Milena se volta e se depara com o homem alto, moreno, de cabelos brancos, de pé na porta do outro lado da sala, por onde acabara de entrar. Com o choque, mau ouve a voz de Lázarus atrás de si.

— Eu interceptei sua carta para seu pai a tempo.

Lázarus caminha triunfante entre Milena e o recém-chegado, que se olham de longe.

— Naquela noite em que você me jogou no rio, a noite em que matei seu humanozinho sem sal, eu senti um ódio gigantesco. Ah! Ana behav ahzan ante! Eu queria te matar! Mas, tive uma idéia melhor. Me lembrei de você chamando sua senhora de mãe. Lembrei que você teria uma família, um pai biológico.

Uma lágrima de sangue brota dos olhos de Milena. Mas Lázarus não se importa.

— Não foi difícil encontrá-lo, já que você estava oficialmente desaparecida para os humanos. Seu pai espalhou sua foto nos jornais. O dono do bar que você freqüentava entrou em contato com ele, mas já era tarde. Você nunca mais pisou lá. Mas eu sim. Encontrei seu pai.

— E o matou. Zían! Maldito!

— Quando enviou sua carta, ele já era um de nós. Ela veio parar em minhas mãos, senhor de seu pai.

Os caninos de Milena crescem, seus olhos ficam mais brilhantes.

— Era necessário. Já imaginou um humano sabendo de tudo sobre nós? A nossa segurança é o anonimato. Você sabe muito bem disso. Entenda, foi o melhor para todos nós.

— Pai.

A palavra escapou da garganta da Tremére. Há tantos anos presa.

— Minha filha. Faça o que o meu senhor diz. Case-se com ele.

— Ana náin bonnie azez stulbach! Ana behav khufu! - Eu não vou casar com este idiota! Eu preciso voar! -

Milena voa em direção à porta que seu pai entrara.

— Não vai adiantar.

Lázarus se sente bastante confiante. Milena tenta abrir, mas a porta está selada.

— Você acha que pode me trancar aqui?

Milena voa até o centro do círculo de Malkavianos.

— Acha? Então veja isso!

Milena voa velozmente em direção ao teto, quebrando-o e sumindo na noite. Pedaços do reboco caem na sala branca. Todos olham para o buraco, mostrando o céu estrelado. De Milena, restava apenas o cheiro.

— Ela realmente é muito forte.

Lázarus a cada minuto se impressionava mais.

— Sempre tive orgulho de minha filha.

Lázarus olha para o homem ao seu lado, como que para um inseto.

— Isso ela não deve a você. Você não é nada. Ela herdou tudo isso de Lady Anthonya.

Lázarus caminha e se retira da sala, deixando todo um clã de Crianças da Noite perplexo


***





Milena quase pode tocar o mar. Está lindo, refletindo a lua naquele exato momento em que voa. Havia muito tempo não vinha à praia de Boa Viagem, bela assim durante a noite. E àquela hora, estava deserta. Poucos carros na rua, um ou outro casal trocando carícias. Estava sozinha.

Caminha na areia em direção ao mar e ergue os braços, respirando aquele aroma salgado.

— Mar Ricardo! Sana thar lit von ahzan! Back von ana!

Aquelas palavras são ditas com ardor. Os olhos de Milena mudam, suas pupilas se dilatam. Sentia o sangue Tremére em seu corpo.

— Gedan dart Ricardo von shar ocará! Paranã-Pukana! Gedan dart Ricardo von shar ocará! Paranã-Pukana!

Uma onda bate aos pés de Milena, mas a água não retorna ao mar. Daquela água, o corpo de Ricardo é formado, nu, de bruços na areia da praia. Milena o toma nos braços e voa.

Ao aterrizar no topo do edifício Pessoa de Melo, Milena relembra o que aconteceu no passado, a morte de Lady Anthonya pelas mãos de Lázarus, a morte de seu amado Ricardo. Novamente estava ali, com o corpo de Ricardo nos braços, e o repousa no chão.

— Desculpe incomodar seu sono, meu amor, mas preciso de sua ajuda.

Milena beija seu rosto e fica de pé. Se aproxima do parapeito do prédio e observa toda a Conde da Boa Vista. Seus olhos captando cada movimento, cada ser humano caminhando por ali. Em cada corpo humano, pode sentir o cheiro do seu sangue correndo nas veias, o cheiro do medo, da felicidade, da distração, do amor, do ódio... Podia ver cada corpo, cada pessoa, ver seus lábios se mexerem em conversas e segredos... Mas não era nisso que estava prestando atenção. Media cada transeunte, cada corpo, fazia uma minuciosa inspeção, até encontrar o tamanho adequado. Observa o Shopping. Voa rapidamente, quão rápido pudesse sem ser vista. Caminhando pela rua ao lado, entra no Shopping, vai direto a uma ala menos movimentada e entra numa loja de roupas masculinas. Tudo isso é feito muito rápido. Mede cada roupa e encontra a adequada. Olhando nos olhos da atendente do caixa, capta imediatamente a atenção dela. Seus olhos ficam verdes brilhantes.

"Eu já paguei por esta roupa."

"Sim, você já pagou." A atendente fala mecanicamente, num transe.

"Obrigada".

Milena se retira, estalando um dos dedos. A moça acorda.

Volta para o prédio, onde Ricardo está deitado. Milena veste-o e repete o ritual do abraço, para acordá-lo. Suas convulsões são fortes e seu corpo se debate, Milena apenas observa. Em seguida, vagarosamente os olhos acastanhados se abrem.

— Saudades, Ricardo. Muitas saudades!

As primeiras palavras são balbuciadas quase inaudíveis.

— Ana ahia! Ana ahia!

— O que viu, meu amor?

— Ana ahia Saraha. Von ana ahia! - Eu vi o Paraíso. Com meus próprios olhos! -

— Eu sei.

O beijo entre eles era algo antes impensável. Como havia aprendido com Lady Anthonya, entre vampiros não há relações de amor, apenas laços de sangue. Mas Milena e Ricardo sentiam algo dentro deles que não podiam sufocar. Algo muito maior do que toda essa loucura que passavam, do que todo o ódio que sentiam, do que a Jyhad e qualquer coisa que lhe dissessem. Algo que fazia seus corações renascerem, como se voltassem a viver. Se nenhum vampiro sentia isso, pois então eles seriam os primeiros.

Os dois estavam juntos, matando saudades que os marcaram durante esse tempo, mas, em breve, os primeiros raios da aurora os atingiriam. Não podiam ficar ali. E Milena sabia disso.

— Nar behav khufu embareh kwes saori. - Precisamos voar antes que o sol nasça! -

Os dois levantam vôo. Em seguida, Lázarus chega e caminha solenemente sobre o local onde os dois vampiros tinham estado à pouco. Como Milena tivera coragem de ressuscitar aquele vampirozinho idiota? Lázarus mau podia pensar. Seus planos poderiam ir por água abaixo. Se já seria difícil convencer Milena a casar-se com ele, quanto mais acompanhada de Ricardo? Precisava de um plano, um plano bastante eficaz. Precisava de ajuda. Uma ajuda muito precisa. Precisava também de alguém, alguém muito influente. Ah, teria de pensar, pensar muito, para que nada desse errado, absolutamente nada. Em tudo isso pensa Lázarus, olhando o lugar onde muitas coisas aconteceram, onde aquela Tremére o humilhou. Mas não ficaria impune. Agora, já não era mais um simples Malkaviano. Tinha muito mais poder do que antes.

— Ahz, Milena. Avon. - Mau, Milena. Um erro. -


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5 comentários:

  1. Isso foi "inspirado" em Vampiro:a Máscara,o RPG?A White Wolf,que detêm(até onde sei),os direitos autorais de vários termos usados sabe desse blog?Estou procurando,mas não encontro sequer uma referência(homenagem,agradecimento)a Mark Rein Hagen e seus colegas de equipe...que tiveram a ética e sinceridade de apontar suas referências(inúmeros livros e filmes)no RPG Vampiro:a Máscara.

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    1. Em primeiro lugar, Claudio, gostaria de agradecer por ter dispensado seu tempo em vir até aqui. Em segundo lugar, não ganho dinheiro com esta história, é apenas um gênero chamado "fanfic", muito difundido pela web, e não vejo ninguém cobrar direitos autorais de fanfics. Em terceiro lugar, os créditos estão no capítulo um, e não possuo direito algum sobre a obra original, apenas cito o universo. Obrigada.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bem,então é uma fanfic.Um texto muito mal escrito,diga-se.Não sei o que as personagens SENTEM,mal sei o que elas pensam(não de verdade,em seus íntimos).São extremamente superficiais.E estereotipadas.Parece o roteito de um filme- no sentido RUIM.Meu Deus,isso é uma vergonha ao universo "criado" por Rein-Hangen(uso aspas porque ele mesmo nunca hesitou em apontar suas inúmeras referências/fontes de inspiração).Não fui comovido por seu escrito.Nem entretido.Sua estória é banal,cheia de clichês. Parece ter sido escrita por uma pré-adolescente(SEM TALENTO LITERÁRIO).Onde está a ANGÚSTIA das personagens?Aquilo que as tornava tão humanas não só no RPG da WW mas nos romances de Anne Rice?Fica impossível me identificar com elas! Talvez você deva ler o romance "Entrevista com o Vampiro"(LER o romance,não ver o filme).Por favor,não leve o que digo a mal. Só aponto seus inúmeros erros e tento ser diplomático e sincero ao memso tempo.Considere isso uma crítica construtiva. Você tem muito o que aprender.Att,C.D

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    1. Obrigada, Claudio, aceito sua crítica. E realmente é uma fanfic escrita por uma adolescente, visto que eu a escrevi aos 14 e 15 anos de idade (cada uma das histórias, respectivamente), e estava postada desde então no site http://fanfiction.com.br e não me envergonho da forma como escrevia naquela época. Eu até gosto, porque nem tinha pretensões de escrita e, mesmo assim, consegui escrever duas histórias, ao passo que meus colegas de classe mal conseguiam escrever 15 linhas de uma redação para a escola. Todos os erros que você vê eu também vejo, e não me preocupo com eles, pelos motivos que já os citei. Seja bem vindo ao blog se quiser ler alguma outra história, mais recente, como CRIANÇA (apenas um capítulo). Abraços.

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