A Dríade do Mar - Capítulo Um


Eu não sou uma pessoa de palavras. Nunca fui. Sou um homem de ação. Gosto de trabalhar, suar a camisa, gosto de pensar, estar sempre estudando, quieto no meu canto. E foi assim que galguei os principais degraus de minha carreira. É por isto que estou aqui, neste momento, na proa do Kronus, navio oficial da Marinha dos Estados Unidos, em uma missão de reconhecimento e catalogação no mar da América Central, nas proximidades de Guantânamo, Cuba. Um grupo de pesquisadores está em um estudo aprofundado de fenômenos marítimos nesta região, e a marinha estadunidense tem interesses envolvidos nos resultados dessa pesquisa.

Deixe-me apresentar-me. Chamo-me Charles Fletcher, capitão da Marinha, e estou chefiando esta missão de reconhecimento a bordo do Kronus. A equipe de pesquisadores reporta-se a mim para qualquer operação naval, mas tem seus próprios objetivos acadêmicos e científicos. A tripulação conta com diversos marinheiros e engenheiros navais para uma boa missão. Todos estão entre as idades de vinte e vinte e nove anos. Todos jovens.

Eu tenho trinta e quatro anos, duas filhas. Uma de onze anos e a outra acaba de completar nove. E estou em processo de separação judicial. É... a vida é assim mesmo. E é exatamente na vida que eu estava pensando, olhando para o horizonte, enquanto os mergulhadores da equipe de cientistas voltavam ao convés. Aquele mar imenso, aquele oceano sem fim, parecia a minha vida. Sem fim. Mas eu não sentia a mesma profundidade em minha vida. Tudo o que eu fizera parecia ser tão superficial! E ali estava eu, absorto em meus pensamentos, quando tudo aconteceu.

Foi tudo muito rápido. Eu não vi exatamente como ocorreu, pois estava distraído, olhando o horizonte. Então, senti uma pancada forte em minha cabeça, e fui arremessado ao mar. Acho que fiquei um minuto desacordado, e depois percebi o que acontecia. Afundei rapidamente, e fui arrebatado por uma correnteza. Os mergulhadores saltaram de volta, mas eu era constantemente afastado deles pela força da água.


Eu não tinha nenhum equipamento comigo e não conseguia subir à superfície para respirar. Meus olhos começaram a escurecer, e eu percebi que ia desmaiar. Seria meu fim. Eu morreria ali, no meio do mar. Será que encontrariam meu corpo?

Pensei que ia morrer, quando senti algo tapar minha visão. Levei as mãos aos olhos mas, antes que pudesse tocar o que estava lá, fui impedido. Era como se um par de mãos fortes, pegajosas e duras segurassem meus pulsos como grilhões de ferro. Fiquei desesperado, me debatendo na água, querendo respirar e querendo enxergar o que estava acontecendo. Algum animal marinho? Um polvo talvez? Ou algo pior, desconhecido? Eu não sabia. As mãos que seguravam meus punhos tinham algo como pequenas ventosas, que grudavam e era impossível sair.

Foi quando senti algo quente e macio tocar minha boca. Forçou meus lábios se abrirem e eu pude sentir o gosto da água salgada. E então, o ar entrou. Fiquei sem entender. Eu estava no meio do mar, afundando, sendo levado por correntezas submarinas, quase morto, e entra ar em meus pulmões?

A pressão em meus olhos aliviou e o que havia lá foi retirado. Mas meus punhos continuavam presos. Abri os olhos devagar, sentindo o ardor do sal. Foi quando os vi.



Pensei que estava sonhando, ou que tinha morrido. Não podia ser verdade. Duas criaturas me olhavam com olhar severo. Mas pareciam humanos. Um deles, parecia um homem de quase dois metros de altura, branco, forte, com os cabelos de uma cor azul forte, compridos até a altura dos cotovelos, espalhados pela correnteza do mar. Seus olhos eram azuis, da mesma tonalidade dos cabelos. Seu rosto masculino era extremamente bonito, e não tinha nenhum tipo de pelo em seu corpo. Seus braços eram fortes, e tinham minúsculas ventosas, até a ponta dos dedos. Entre os dedos, ligações, como micro-barbatanas. E o mais impressionante. Da cintura para baixo, ele era um peixe.

Virei-me para a outra criatura. E fiquei imediatamente encantado. Era o que parecia ser uma mulher. Os cabelos longos eram de uma tonalidade laranja, e os olhos eram da mesma cor. Sua pele também era alva, e os braços tinham a mesma textura do outro. Também era alta, e tinha a mesma cauda de peixe que seu companheiro. Era imensamente linda, e fiquei constrangido ao ver seus seios expostos.



O que parecia ser uma garota aproximou-se de mim e grudou seus lábios nos meus, forçando entrar em meus pulmões mais uma rajada de ar. Minha vista não estava mais turva, e meus pensamentos corriam rápidos, com maior lucidez. Ainda assim, eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Olhei à minha volta. Não conseguia enxergar além dos dois seres à minha frente. Estávamos longe da superfície, o que tornava o ambiente mais escuro. Alguns sons chegavam aos meus ouvidos, sons horripilantes que se moviam pelas águas.

As duas criaturas se olharam. Então, o que seria um homem-peixe segurou-me pelo braço direito. A outra, pelo braço esquerdo. E numa velocidade espantosa, me carregaram, nadando mar adentro.

Capítulo Dois

Share this:

JOIN CONVERSATION

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário