Degustação - A Princesa de Cuxe (Capítulo 3)
Olá, querido leitor.
Se você caiu aqui de paraquedas, aproveite a leitura, e espero que goste.
Se você veio aqui por um anúncio meu, então aproveite para degustar.
Trata-se do terceiro capítulo de meu mais novo livro (julho/2016), "A Princesa de Cuxe". Conta a história de Iana Urbi, filha dos reis da Núbia, que viaja para a capital do Egito no ano 23 do Faraó Ramsés II como uma tradição familiar. Lá, muitas coisas irão acontecer, como conspirações, traições, e um belo hebreu que vem para libertar seu povo do Egito e acaba também arrebatando o coração da princesa.
Se você chegou agora, clique para ler o PRÓLOGO, o CAPÍTULO 1 e o CAPÍTULO 2. Ao final de cada postagem há um link para direcioná-lo à próxima.
Boa leitura!
Não houve momento para descanso. Assim que Khepri se levantou e os raios de Rá atingiram a terra, a princesa e sua comitiva seguiram viagem de barco até próximo de Assuan, chegando com o sol a pino. Tomando uma felucca, um barco grande capaz de transportar cargas pesadas, rumaram Nilo abaixo até o porto anterior à primeira catarata do Nilo. Durante todo o trajeto, Menik não teve chances de conversar com a princesa. Iana estava sempre quieta em seus aposentos no barco, ou observando o rio, sem que ninguém tivesse a chance de se aproximar.
Almoçaram e seguiram em caravana até Nekhen, margem oriental do Nilo, onde se hospedaram por mais uma noite. Aos primeiros raios de sol da manhã seguinte, tomaram outra embarcação e desceram o Nilo, passando por Tebas, a antiga capital dos faraós anteriores, e navegaram diretamente, sem paradas, até o Delta.
Chegando ao porto de Avaris, Cidade de Ramsés, escravos do palácio, que já aguardavam a chegada da comitiva da Núbia, os acompanharam pela cidade até seu destino. Iana ainda não conhecia a capital do Egito e se encantou pelas grandes obras e estátuas de deuses e do próprio Faraó.
Já tivera mostras anteriores das grandes obras do Soberano. Desde que assumira o trono de seu pai, o Faraó Seti I, vinte e três anos antes, Ramsés fizera questão de espalhar grandiosas obras, templos e santuários por todo o Egito, principalmente na região da Núbia, para afirmar seu poder sobre o reino subordinado a ele. O próprio templo da deusa Anuket, em Kerma, havia sido construído pelo Senhor das Duas Coroas.
À porta do palácio havia uma fila de comerciantes, artesãos, camponeses, todos esperando para falar com o Faraó. Iana e toda a sua comitiva entraram à frente dessa fila e ela foi recepcionada por um senhor de idade numa antecâmara do palácio.
— Minhas sinceras boas vindas, Princesa Iana Urbi. Eu sou Husani, o Sehpset da Grande Esposa Real Nefertari, a joia do Nilo, e estou aqui para acompanhá-la aos seus aposentos.
— Obrigada, Sehpset. É uma honra conhecê-lo pessoalmente. Eu irei ver o Soberano?
— Receio que no momento não será possível. Como pode ver, a sala do trono está deveras ocupada no momento, e o Senhor das Duas Coroas está bastante atarefado atendendo às demandas do povo e julgando algumas causas. Mas não se preocupe. Já estávamos à sua espera. Você será instalada no Harém, com as outras mulheres, onde poderá banhar-se e alimentar-se. A Grande Esposa Real a receberá, e, após a refeição no fim da tarde, também o Soberano a receberá. Sua estada aqui no palácio já foi garantida. O Soberano irá dizer-lhe qual será sua função durante os próximos dois anos em que aprenderá conosco na Casa Jeneret.
— Agradeço muito sua atenção, Sehpset, e realmente estou bastante cansada, gostaria de me instalar agora.
— Pois não.
Husani chamou três escravos eunucos que vieram buscar a bagagem de Iana e levá-la para o Harém, e também separar os presentes aos soberanos, para quando fosse atendida na Sala do Trono. Iana voltou-se para sua comitiva para despedi-los.
— Obrigada por me acompanharem até aqui. Espero que descansem por hoje e partam somente amanhã.
Husani se aproximou.
— Há instalações que poderão servir à sua comitiva, Princesa, e todos poderão descansar por hoje e amanhã partirão. Poderão se banhar e se alimentar e somente partir sob a proteção de Rá, amanhã.
— Muito obrigada, Sehpset.
— Acompanhem o escravo, ele lhes mostrará onde deverão se instalar.
Um escravo mostrou o caminho, e os servos de Iana e alguns soldados o seguiram. Menik queria ficar, falar com a princesa, mas ela já estava seguindo os corredores em direção ao Harém, ao lado de Husani.
— Talvez mais tarde...
E seguiu seu caminho.
O Harém era uma ala imensa do palácio. Tinha um grande quarto de banho com cinco tinas, enfeitado por tecidos ricos, vasos e estátuas; um grande quarto de dormir, com muitas almofadas, camas, tapetes e tecidos; uma área de lazer onde as mulheres e seus filhos pequenos podiam jogar senet e fazer suas refeições; um jardim privativo com uma grande piscina e mesas para fazer lanches e refeições ao ar livre; uma sala de estudos onde as mulheres aprendiam a dançar, cantar e tocar vários instrumentos, como o alaúde, a harpa ou a flauta. As crianças, em sua fase inicial, também aprendiam o básico ali, mas assim que atingiam a maturidade, por volta dos dez anos, seguiam para seus interesses, como aprender a lutar com os melhores soldados, ou aprender as ciências e a escrita com os sacerdotes.
Após banhar-se e vestir-se com a ajuda de uma serva, Iana seguiu para a sala de lazer, onde fez uma farta refeição, do melhor que a cozinha do palácio podia oferecer. As esposas do Faraó também estavam lá, muitas com suas crianças, algumas jogando, outras conversando, outras se alimentando.
Uma delas se aproximou de Iana.
— Você deve ser a Princesa Cuxita — disse ela, sentando-se num banco próximo à sua mesa.
Iana sorriu seu melhor sorriso.
— Sim. Sou Iana Urbi, filha do Rei Zaki e da Rainha Zarina.
A mulher sorriu, mas seu olhar tinha um brilho diferente, que deixou Iana intrigada.
— Hum... A filha de um rei e de uma rainha que praticamente não têm reino...
Iana franziu o cenho. Nunca, em sua vida, tivera a insolência de outra pessoa estampada em sua frente, e ficou sem ter o que responder. Até porque aquela mulher era uma das esposas do Faraó, e ela era a filha do rei de um reino subordinado ao Império Egípcio.
— Ora, princesa, não fique tão preocupada! Afinal de contas, é normal recebermos em nossa casa as ditas princesas de seu reino para estudarem conosco como devem se portar, como devem agir para agradar aos deuses e a seu povo. E depois, você voltará para seu palácio — e neste momento, a mulher riu como se tivesse dito algo engraçado —, e voltará a viver um reino debaixo deste reino...
Outra esposa se aproximou.
— Não ligue para ela, princesa. Esta é Isisnefer, e é muito amarga assim mesmo. Mas você se acostuma. — Ela sentou-se ao lado de Iana. — Sou Anippe, uma das esposas de Ramsés.
— Sou Iana Urbi.
— Seja bem vinda, Iana. Espero que se sinta em casa enquanto estiver conosco. Você já teve sua designação pelo Faraó?
— Ainda não. Sehpset disse que ele me receberá após a refeição. Ele me avisará quando chegar o momento.
Isisnefer ficou de pé.
— Provavelmente será designada para dama de companhia de alguma nobre do palácio. — Deu de ombros. — Afinal, do que serve uma princesa sem reino além de servir as reais filhas do reino?
E rindo, Isisnefer se retirou da presença delas.
— Não se preocupe com Isisnefer — disse Anippe. — Sempre foi amarga assim com todas as esposas, principalmente quando o Soberano trazia uma nova esposa. A única com quem ela tenta se dar bem é com a Grande Esposa Real, que aliás, é a única que lhe dá um pouco de atenção.
— De qualquer maneira — disse Iana —, Isisnefer tem razão. Sou uma princesa sem reino de verdade.
— Não diga isso. Ela é que é uma mulher invejosa. É esposa de um Faraó, mas não é chamada aos aposentos do soberano há várias colheitas atrás, enquanto você tem tratamento de rainha em seu reino. Não se preocupe. Você passará dois anos entre nós, provavelmente numa designação de dama de companhia, como ela disse, mas aprendendo sobre tudo o que precisa aprender, e depois voltará a ser uma princesa em seu palácio. Enquanto ela não tem a atenção dos soberanos, e vive aqui no Harém, sem poder sair.
— É verdade...
— Temos tudo de que necessitamos, Iana. Mas ficamos sempre aqui, no palácio. Às vezes saímos em algum cortejo, em alguma honraria aos deuses, mas sempre estamos na área das mulheres, sempre no Harém. Às vezes uma de nós é chamada aos aposentos do Soberano, mas já faz muitas luas que isso não acontece. Somente a Grande Esposa Real é chamada. Ela vive num aposento especial que o Soberano mandou preparar, e raramente vem ao Harém. É a preferida de Ramsés, nós sabemos, e convivemos com isso. Já Isisnefer não aceita esta predileção.
— Ora, por que não? É natural que o rei escolha uma de suas esposas...
— É natural que seja sua primeira esposa. Mas Nefertari não é a primeira esposa do soberano.
— Não?
— Não. Isisnefer é a primeira.
Agora Iana entendia. E uma mulher rejeitada é a pior das víboras. E Isisnefer mostrou animosidade com ela. Deveria tomar cuidado.
Menik andava de um lado a outro. Não aceitava que não tivesse conseguido falar com Iana. Agora, a perderia para sempre. Não podia falar com ela, pois estava no Harém. E no dia seguinte, ele partiria com a comitiva. Aguardava poder falar com ela após a audiência com o Faraó. Esperava que pudesse falar com ela. Era tudo o que queria.
Mas, será que teria coragem?
Iana Urbi foi anunciada na sala do trono, e as folhas duplas da pesada porta de ouro e madeira entalhada foram abertas. A Princesa de Cuxe entrou, com suas melhores vestimentas, e foi seguida por seus servos, soldados e o general Menik. Baús foram deixados diante do trono do Faraó, que estava sentado e, ao seu lado de pé, encontrava-se Nefertari, em toda a sua beleza, paramentada com a coroa de Nekhbet, um abutre representando o Alto Egito, e um amuleto de Khonsu que tomava quase todo o seu peito, a imagem de um falcão de asas abertas segurando, em cada pata, um símbolo de justiça da deusa Maat.
Iana ajoelhou-se diante dos soberanos.
— Senhor das Duas Coroas, Amado de Ptah, Horus Vivo, Filho de Rá. Agradeço imensamente a generosidade e hospitalidade. Trago do Reino da Núbia presentes para os soberanos.
Iana fez um sinal e os servos abriram os baús. O primeiro deles continha joias feitas de ouro e rubis. O segundo, peças de marfim, prontas para serem trabalhadas pelos artesãos do palácio. O terceiro, peles de leopardo. Um dos servos abriu um cesto e continha um embrulho de linho, que foi aberto, e mostrou várias penas de avestruz, ao que a rainha Nefertari se interessou.
— Riquezas da Núbia para os soberanos. Há um carregamento de ébano e já foi encaminhado ao escriba e vizir do palácio.
Enquanto Faraó ficava de pé e, de onde estava, observava o conteúdo dos baús, Iana curvou sua cabeça, voltando o olhar para o chão ricamente adornado de tapetes. Quando ele falou novamente, ela ergueu o olhar, ainda curvada.
— Fico grato pelos presentes, Iana Urbi, filha de Zaki, rei da Núbia. A partir de hoje e pelos próximos dois anos, você será designada a dama de companhia da Grande Esposa Real, a senhora Nefertari, e a servirá em tudo o que ela desejar.
Iana baixou a cabeça em agradecimento e olhou para Nefertari, que sorria para a princesa.
— Será um prazer tê-la como minha dama de companhia, Iana —, disse Nefertari.
Iana sorriu para a esposa do Faraó.
— A honra é minha, Grande Esposa Real.
Dispensada, os baús foram recolhidos pelos escravos do Faraó, e Iana e os soldados núbios se retiraram.
— Amanhã pela manhã vocês estarão partindo — disse Iana a Menik, já na antecâmara do palácio. — Espero que façam uma boa viagem, e avisem aos meus pais que estarei bem, como dama de companhia da Soberana.
— Claro, Princesa — disse Menik, vendo a oportunidade. — E espero que...
— Iana?
Os dois olharam na direção da voz. Era Sehpset.
— Venha. A Grande Esposa Real a está esperando em seus aposentos.
— Claro.
E Iana foi levada, mais uma vez, da presença de Menik, que, desolado, retirou-se.
Iana entrou nos aposentos de Nefertari. O quarto era grande, uma cama no centro dele, com duas mesinhas de toucador contendo diversos produtos cosméticos. Vários tapetes e peles de animais nobres cobriam todo o chão. Uma das paredes era coberta por desenhos de Hathor, a deusa do amor, e as demais paredes se revezavam em pinturas e enfeites de tecidos caros. Nefertari estava sentada em um dos seus bancos favoritos, a um canto, tomando uma taça de vinho.
A rainha era uma mulher jovem, entre os trinta e cinco e quarenta anos, Iana não sabia bem a idade, mas era bela, altiva, vaidosa e bem cuidada, como uma rainha deveria ser.
— Aproxime-se Iana!
Iana se aproximou da soberana e ficou de pé, próximo a ela.
— Venha, sente-se aqui. — Nefertari indicou a ela um banco pequeno coberto de peles macias. — Você irá me servir, mas quero que saiba que a tratarei não como uma serva comum. Sua mãe serviu como dama de companhia da Grande Esposa Real de Seti, a senhora Tya, e sua avó serviu à Grande Esposa do primeiro Ramsés, ainda que por pouco tempo. Ambas foram muito bem tratadas. Apesar de você ser princesa de um reino subordinado ao Egito, não se preocupe. Não será mal tratada no palácio.
— Obrigada, soberana.
— Deseja beber um pouco? Há vinho de tâmaras aqui...
— Obrigada, soberana, mas não agora.
— Que seja. Amanhã pela manhã precisarei de você em meus aposentos para ajudar-me a me vestir e me arrumar.
— Gostaria de despedir-me de minha comitiva, que parte ao nascer do sol. Seria possível, minha rainha?
— Claro, Iana. Assim que se despedir de sua comitiva, venha para ajudar-me.
— Sim, senhora.
— Está dispensada por hoje. Pode se recolher e descansar.
— Obrigada, senhora.
Iana se retirou, tentando memorizar o caminho do quarto de Nefertari até os aposentos das esposas. No meio do caminho, encontrou Isisnefer.
— Quer dizer que agora a grande Princesa de Cuxe se tornou a dama de companhia de Nefertari.
— Com licença.
Mas Isisnefer não deixou que Iana passasse, se colocando em seu caminho. Olhando-a de cima abaixo, a esposa do Faraó a analisou.
— Seu povo é feito para ser escravo. E é isso o que um dia todos vocês serão. Você se diz princesa, mas você é apenas uma dama de companhia. Esse é o máximo que você conseguirá. — Sorriu. — Princesa. Aqui você é apenas a mulher que vai ajudar a rainha a vestir-se, a maquiar-se, e vai pentear e enfeitar suas perucas. Aqui, você não é ninguém além de uma serva.
Iana não disse nada, apenas sustentou o olhar de Isisnefer, sem medo, sem subserviência. A egípcia sorria, mas em seu íntimo sentia raiva, pois aquela mulher não se rebaixava, não sentia medo dela.
Seguiu pelo corredor, deixando a cuxita sozinha. Ela sabia que a garota não sentiu medo agora, mas sentiria depois. Trataria disso.
Iana chegou aos aposentos do Harém ofegante. Estava nervosa. A esposa do Faraó, a senhora Isisnefer, a estava claramente provocando. Ela não sabia qual a razão real de tal inimizade, mas já não sabia o que fazer ou como lidar com a situação.
Abanou-se com as mãos e foi até uma janela, para respirar ar puro, e sentiu o carinho de Kefera nas suas pernas. Tomou-a nos braços e, com sua companhia, saiu para o jardim, que já escurecia sem a luz de Rá. Olhou para os olhos de Kefera.
— Proteja-me, Bastet. Tenho a sensação de que, mesmo durante o dia, este lugar tem pouca luz...
A gata ronronou e Iana suspirou.
— Senhora?
Iana franziu o cenho e virou-se, estranhando o título ali, afinal, era apenas uma dama de companhia. Viu duas servas ajoelhadas diante dela, e pelo tom de pele, eram da Núbia.
— Soubemos que nossa princesa estava no palácio, e viemos o mais depressa possível para vê-la! — disse uma delas.
— Por favor, levantem-se! Aqui não sou uma princesa, sou a dama da Grande Esposa Real. Se alguém as vir me tratando como realeza, talvez não seja bom para vocês.
As duas se levantaram.
— De qualquer modo — disse a moça que havia falado anteriormente —, queríamos nos colocar à disposição da princesa para tudo o que precisar.
Iana sorriu.
— Não precisam se preocupar. Aqui vocês não estão para me servir. E, afinal, servem alguma das esposas do Soberano?
— Não —, disse a moça. — Eu sou Makena, dama de companhia da Princesa Cairoshel, tia do Soberano.
— E eu sou Zene — completou a outra moça —, dama de companhia da Princesa Henutmire, irmã do Soberano.
Iana sorriu e deu as mãos às duas.
— É um prazer. E eu sou Iana Urbi, dama de companhia da Grande Esposa Real. Aqui, minhas amigas, somos iguais. Por isso, nada de reverências.
— Mas...
— É uma ordem — disse Iana sorrindo, interrompendo Makena. — Vamos, será divertido. Poderíamos sair juntas para o comércio qualquer dia desses e comprar itens para nossas senhoras. O que acham?
As duas abriram mais os olhos, surpresas.
— A princesa sairia conosco ao comércio?
— Claro! Por que não? Poderíamos comprar perfumes de algum mercador de Punt ou alguma riqueza de além do deserto. O que acham? Nossas senhoras iriam gostar muito de trazermos alguma novidade.
Elas sorriram e concordaram. Em seguida, com uma mesura interrompida por Iana e, caindo na risada, se retiraram, deixando a princesa de Cuxe sozinha com sua gata e seus pensamentos.
Assim que o sol nasceu, a comitiva já estava pronta para partir. Menik estava ansioso. Não tivera como falar com Iana, e agora que estava partindo, não poderia fazer nada a não ser esperar dois anos por ela e pedir aos deuses que ela não fosse prometida a nenhum outro antes que pudessem conversar. Andava de um lado a outro, observando a tudo, quando chegou a hora de iniciar a viagem. Iana não estava em parte alguma.
Acreditava que ela viria, por isso, demorou-se um pouco mais em sair.
— Não vamos partir agora, general? — disse um de seus soldados.
Ele olhou para trás, procurando algum sinal da princesa.
— Precisamos partir, tomar o primeiro barco no porto. Não precisamos esperar por uma felucca. Não temos mais a carga que trouxemos. Podemos ir num barco bem menor e rapidamente chegarmos a Assuan. Assim, nossa viagem será encurtada.
— Eu sei, soldado, eu sei.
Menik ainda olhava para trás, quando viu Iana se aproximar. O general suspirou. Ela estava ainda mais bela àquela manhã. Sentia falta de seus fartos cabelos, mas a peruca e os adornos egípcios lhe caíram muito bem.
— Princesa.
— General. Obrigada por não partir sem que eu chegasse. Eu estava apreensiva.
— Aconteceu alguma coisa?
Iana lembrou-se do que Isisnefer havia feito para atrasá-la, sujando-lhe a túnica de mel durante a primeira refeição.
— Nada em particular. Apenas me atrasei um pouco. Por favor, diga a minha mãe e meu pai que tudo correu bem, e sou a Dama de Companhia da Soberana. Em dois anos, estarei de volta. E que sinto imensas saudades de todos no palácio.
— Claro, princesa. Também sentiremos muitas saudades de você.
Iana franziu o cenho.
— Também sentirá, general?
Menik engasgou. Iana mantinha-se com o olhar sobre ele, sem desviar-se um milímetro. Gaguejou e quase não conseguiu concluir a frase.
— Sim, princesa, sua falta será sentida por todos no palácio e pelos que a serviam.
Ela sorriu.
— Está bem, então. Façam uma boa viagem. Que Amon e Hapi cuidem de seu caminho, protegendo-os até a sua chegada.
E se retirou. Menik sentiu vontade de chutar a si mesmo. Definitivamente, jamais conseguiria se aproximar da Princesa.
Se você caiu aqui de paraquedas, aproveite a leitura, e espero que goste.
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Trata-se do terceiro capítulo de meu mais novo livro (julho/2016), "A Princesa de Cuxe". Conta a história de Iana Urbi, filha dos reis da Núbia, que viaja para a capital do Egito no ano 23 do Faraó Ramsés II como uma tradição familiar. Lá, muitas coisas irão acontecer, como conspirações, traições, e um belo hebreu que vem para libertar seu povo do Egito e acaba também arrebatando o coração da princesa.
Se você chegou agora, clique para ler o PRÓLOGO, o CAPÍTULO 1 e o CAPÍTULO 2. Ao final de cada postagem há um link para direcioná-lo à próxima.
Boa leitura!
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A Princesa de Cuxe
Capítulo 3
Almoçaram e seguiram em caravana até Nekhen, margem oriental do Nilo, onde se hospedaram por mais uma noite. Aos primeiros raios de sol da manhã seguinte, tomaram outra embarcação e desceram o Nilo, passando por Tebas, a antiga capital dos faraós anteriores, e navegaram diretamente, sem paradas, até o Delta.
Chegando ao porto de Avaris, Cidade de Ramsés, escravos do palácio, que já aguardavam a chegada da comitiva da Núbia, os acompanharam pela cidade até seu destino. Iana ainda não conhecia a capital do Egito e se encantou pelas grandes obras e estátuas de deuses e do próprio Faraó.
Já tivera mostras anteriores das grandes obras do Soberano. Desde que assumira o trono de seu pai, o Faraó Seti I, vinte e três anos antes, Ramsés fizera questão de espalhar grandiosas obras, templos e santuários por todo o Egito, principalmente na região da Núbia, para afirmar seu poder sobre o reino subordinado a ele. O próprio templo da deusa Anuket, em Kerma, havia sido construído pelo Senhor das Duas Coroas.
À porta do palácio havia uma fila de comerciantes, artesãos, camponeses, todos esperando para falar com o Faraó. Iana e toda a sua comitiva entraram à frente dessa fila e ela foi recepcionada por um senhor de idade numa antecâmara do palácio.
— Minhas sinceras boas vindas, Princesa Iana Urbi. Eu sou Husani, o Sehpset da Grande Esposa Real Nefertari, a joia do Nilo, e estou aqui para acompanhá-la aos seus aposentos.
— Obrigada, Sehpset. É uma honra conhecê-lo pessoalmente. Eu irei ver o Soberano?
— Receio que no momento não será possível. Como pode ver, a sala do trono está deveras ocupada no momento, e o Senhor das Duas Coroas está bastante atarefado atendendo às demandas do povo e julgando algumas causas. Mas não se preocupe. Já estávamos à sua espera. Você será instalada no Harém, com as outras mulheres, onde poderá banhar-se e alimentar-se. A Grande Esposa Real a receberá, e, após a refeição no fim da tarde, também o Soberano a receberá. Sua estada aqui no palácio já foi garantida. O Soberano irá dizer-lhe qual será sua função durante os próximos dois anos em que aprenderá conosco na Casa Jeneret.
— Agradeço muito sua atenção, Sehpset, e realmente estou bastante cansada, gostaria de me instalar agora.
— Pois não.
Husani chamou três escravos eunucos que vieram buscar a bagagem de Iana e levá-la para o Harém, e também separar os presentes aos soberanos, para quando fosse atendida na Sala do Trono. Iana voltou-se para sua comitiva para despedi-los.
— Obrigada por me acompanharem até aqui. Espero que descansem por hoje e partam somente amanhã.
Husani se aproximou.
— Há instalações que poderão servir à sua comitiva, Princesa, e todos poderão descansar por hoje e amanhã partirão. Poderão se banhar e se alimentar e somente partir sob a proteção de Rá, amanhã.
— Muito obrigada, Sehpset.
— Acompanhem o escravo, ele lhes mostrará onde deverão se instalar.
Um escravo mostrou o caminho, e os servos de Iana e alguns soldados o seguiram. Menik queria ficar, falar com a princesa, mas ela já estava seguindo os corredores em direção ao Harém, ao lado de Husani.
— Talvez mais tarde...
E seguiu seu caminho.
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O Harém era uma ala imensa do palácio. Tinha um grande quarto de banho com cinco tinas, enfeitado por tecidos ricos, vasos e estátuas; um grande quarto de dormir, com muitas almofadas, camas, tapetes e tecidos; uma área de lazer onde as mulheres e seus filhos pequenos podiam jogar senet e fazer suas refeições; um jardim privativo com uma grande piscina e mesas para fazer lanches e refeições ao ar livre; uma sala de estudos onde as mulheres aprendiam a dançar, cantar e tocar vários instrumentos, como o alaúde, a harpa ou a flauta. As crianças, em sua fase inicial, também aprendiam o básico ali, mas assim que atingiam a maturidade, por volta dos dez anos, seguiam para seus interesses, como aprender a lutar com os melhores soldados, ou aprender as ciências e a escrita com os sacerdotes.
Após banhar-se e vestir-se com a ajuda de uma serva, Iana seguiu para a sala de lazer, onde fez uma farta refeição, do melhor que a cozinha do palácio podia oferecer. As esposas do Faraó também estavam lá, muitas com suas crianças, algumas jogando, outras conversando, outras se alimentando.
Uma delas se aproximou de Iana.
— Você deve ser a Princesa Cuxita — disse ela, sentando-se num banco próximo à sua mesa.
Iana sorriu seu melhor sorriso.
— Sim. Sou Iana Urbi, filha do Rei Zaki e da Rainha Zarina.
A mulher sorriu, mas seu olhar tinha um brilho diferente, que deixou Iana intrigada.
— Hum... A filha de um rei e de uma rainha que praticamente não têm reino...
Iana franziu o cenho. Nunca, em sua vida, tivera a insolência de outra pessoa estampada em sua frente, e ficou sem ter o que responder. Até porque aquela mulher era uma das esposas do Faraó, e ela era a filha do rei de um reino subordinado ao Império Egípcio.
— Ora, princesa, não fique tão preocupada! Afinal de contas, é normal recebermos em nossa casa as ditas princesas de seu reino para estudarem conosco como devem se portar, como devem agir para agradar aos deuses e a seu povo. E depois, você voltará para seu palácio — e neste momento, a mulher riu como se tivesse dito algo engraçado —, e voltará a viver um reino debaixo deste reino...
Outra esposa se aproximou.
— Não ligue para ela, princesa. Esta é Isisnefer, e é muito amarga assim mesmo. Mas você se acostuma. — Ela sentou-se ao lado de Iana. — Sou Anippe, uma das esposas de Ramsés.
— Sou Iana Urbi.
— Seja bem vinda, Iana. Espero que se sinta em casa enquanto estiver conosco. Você já teve sua designação pelo Faraó?
— Ainda não. Sehpset disse que ele me receberá após a refeição. Ele me avisará quando chegar o momento.
Isisnefer ficou de pé.
— Provavelmente será designada para dama de companhia de alguma nobre do palácio. — Deu de ombros. — Afinal, do que serve uma princesa sem reino além de servir as reais filhas do reino?
E rindo, Isisnefer se retirou da presença delas.
— Não se preocupe com Isisnefer — disse Anippe. — Sempre foi amarga assim com todas as esposas, principalmente quando o Soberano trazia uma nova esposa. A única com quem ela tenta se dar bem é com a Grande Esposa Real, que aliás, é a única que lhe dá um pouco de atenção.
— De qualquer maneira — disse Iana —, Isisnefer tem razão. Sou uma princesa sem reino de verdade.
— Não diga isso. Ela é que é uma mulher invejosa. É esposa de um Faraó, mas não é chamada aos aposentos do soberano há várias colheitas atrás, enquanto você tem tratamento de rainha em seu reino. Não se preocupe. Você passará dois anos entre nós, provavelmente numa designação de dama de companhia, como ela disse, mas aprendendo sobre tudo o que precisa aprender, e depois voltará a ser uma princesa em seu palácio. Enquanto ela não tem a atenção dos soberanos, e vive aqui no Harém, sem poder sair.
— É verdade...
— Temos tudo de que necessitamos, Iana. Mas ficamos sempre aqui, no palácio. Às vezes saímos em algum cortejo, em alguma honraria aos deuses, mas sempre estamos na área das mulheres, sempre no Harém. Às vezes uma de nós é chamada aos aposentos do Soberano, mas já faz muitas luas que isso não acontece. Somente a Grande Esposa Real é chamada. Ela vive num aposento especial que o Soberano mandou preparar, e raramente vem ao Harém. É a preferida de Ramsés, nós sabemos, e convivemos com isso. Já Isisnefer não aceita esta predileção.
— Ora, por que não? É natural que o rei escolha uma de suas esposas...
— É natural que seja sua primeira esposa. Mas Nefertari não é a primeira esposa do soberano.
— Não?
— Não. Isisnefer é a primeira.
Agora Iana entendia. E uma mulher rejeitada é a pior das víboras. E Isisnefer mostrou animosidade com ela. Deveria tomar cuidado.
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Mas, será que teria coragem?
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Iana ajoelhou-se diante dos soberanos.
— Senhor das Duas Coroas, Amado de Ptah, Horus Vivo, Filho de Rá. Agradeço imensamente a generosidade e hospitalidade. Trago do Reino da Núbia presentes para os soberanos.
Iana fez um sinal e os servos abriram os baús. O primeiro deles continha joias feitas de ouro e rubis. O segundo, peças de marfim, prontas para serem trabalhadas pelos artesãos do palácio. O terceiro, peles de leopardo. Um dos servos abriu um cesto e continha um embrulho de linho, que foi aberto, e mostrou várias penas de avestruz, ao que a rainha Nefertari se interessou.
— Riquezas da Núbia para os soberanos. Há um carregamento de ébano e já foi encaminhado ao escriba e vizir do palácio.
Enquanto Faraó ficava de pé e, de onde estava, observava o conteúdo dos baús, Iana curvou sua cabeça, voltando o olhar para o chão ricamente adornado de tapetes. Quando ele falou novamente, ela ergueu o olhar, ainda curvada.
— Fico grato pelos presentes, Iana Urbi, filha de Zaki, rei da Núbia. A partir de hoje e pelos próximos dois anos, você será designada a dama de companhia da Grande Esposa Real, a senhora Nefertari, e a servirá em tudo o que ela desejar.
Iana baixou a cabeça em agradecimento e olhou para Nefertari, que sorria para a princesa.
— Será um prazer tê-la como minha dama de companhia, Iana —, disse Nefertari.
Iana sorriu para a esposa do Faraó.
— A honra é minha, Grande Esposa Real.
Dispensada, os baús foram recolhidos pelos escravos do Faraó, e Iana e os soldados núbios se retiraram.
— Amanhã pela manhã vocês estarão partindo — disse Iana a Menik, já na antecâmara do palácio. — Espero que façam uma boa viagem, e avisem aos meus pais que estarei bem, como dama de companhia da Soberana.
— Claro, Princesa — disse Menik, vendo a oportunidade. — E espero que...
— Iana?
Os dois olharam na direção da voz. Era Sehpset.
— Venha. A Grande Esposa Real a está esperando em seus aposentos.
— Claro.
E Iana foi levada, mais uma vez, da presença de Menik, que, desolado, retirou-se.
***
A rainha era uma mulher jovem, entre os trinta e cinco e quarenta anos, Iana não sabia bem a idade, mas era bela, altiva, vaidosa e bem cuidada, como uma rainha deveria ser.
— Aproxime-se Iana!
Iana se aproximou da soberana e ficou de pé, próximo a ela.
— Venha, sente-se aqui. — Nefertari indicou a ela um banco pequeno coberto de peles macias. — Você irá me servir, mas quero que saiba que a tratarei não como uma serva comum. Sua mãe serviu como dama de companhia da Grande Esposa Real de Seti, a senhora Tya, e sua avó serviu à Grande Esposa do primeiro Ramsés, ainda que por pouco tempo. Ambas foram muito bem tratadas. Apesar de você ser princesa de um reino subordinado ao Egito, não se preocupe. Não será mal tratada no palácio.
— Obrigada, soberana.
— Deseja beber um pouco? Há vinho de tâmaras aqui...
— Obrigada, soberana, mas não agora.
— Que seja. Amanhã pela manhã precisarei de você em meus aposentos para ajudar-me a me vestir e me arrumar.
— Gostaria de despedir-me de minha comitiva, que parte ao nascer do sol. Seria possível, minha rainha?
— Claro, Iana. Assim que se despedir de sua comitiva, venha para ajudar-me.
— Sim, senhora.
— Está dispensada por hoje. Pode se recolher e descansar.
— Obrigada, senhora.
Iana se retirou, tentando memorizar o caminho do quarto de Nefertari até os aposentos das esposas. No meio do caminho, encontrou Isisnefer.
— Quer dizer que agora a grande Princesa de Cuxe se tornou a dama de companhia de Nefertari.
— Com licença.
Mas Isisnefer não deixou que Iana passasse, se colocando em seu caminho. Olhando-a de cima abaixo, a esposa do Faraó a analisou.
— Seu povo é feito para ser escravo. E é isso o que um dia todos vocês serão. Você se diz princesa, mas você é apenas uma dama de companhia. Esse é o máximo que você conseguirá. — Sorriu. — Princesa. Aqui você é apenas a mulher que vai ajudar a rainha a vestir-se, a maquiar-se, e vai pentear e enfeitar suas perucas. Aqui, você não é ninguém além de uma serva.
Iana não disse nada, apenas sustentou o olhar de Isisnefer, sem medo, sem subserviência. A egípcia sorria, mas em seu íntimo sentia raiva, pois aquela mulher não se rebaixava, não sentia medo dela.
Seguiu pelo corredor, deixando a cuxita sozinha. Ela sabia que a garota não sentiu medo agora, mas sentiria depois. Trataria disso.
***
Iana chegou aos aposentos do Harém ofegante. Estava nervosa. A esposa do Faraó, a senhora Isisnefer, a estava claramente provocando. Ela não sabia qual a razão real de tal inimizade, mas já não sabia o que fazer ou como lidar com a situação.
Abanou-se com as mãos e foi até uma janela, para respirar ar puro, e sentiu o carinho de Kefera nas suas pernas. Tomou-a nos braços e, com sua companhia, saiu para o jardim, que já escurecia sem a luz de Rá. Olhou para os olhos de Kefera.
— Proteja-me, Bastet. Tenho a sensação de que, mesmo durante o dia, este lugar tem pouca luz...
A gata ronronou e Iana suspirou.
— Senhora?
Iana franziu o cenho e virou-se, estranhando o título ali, afinal, era apenas uma dama de companhia. Viu duas servas ajoelhadas diante dela, e pelo tom de pele, eram da Núbia.
— Soubemos que nossa princesa estava no palácio, e viemos o mais depressa possível para vê-la! — disse uma delas.
— Por favor, levantem-se! Aqui não sou uma princesa, sou a dama da Grande Esposa Real. Se alguém as vir me tratando como realeza, talvez não seja bom para vocês.
As duas se levantaram.
— De qualquer modo — disse a moça que havia falado anteriormente —, queríamos nos colocar à disposição da princesa para tudo o que precisar.
Iana sorriu.
— Não precisam se preocupar. Aqui vocês não estão para me servir. E, afinal, servem alguma das esposas do Soberano?
— Não —, disse a moça. — Eu sou Makena, dama de companhia da Princesa Cairoshel, tia do Soberano.
— E eu sou Zene — completou a outra moça —, dama de companhia da Princesa Henutmire, irmã do Soberano.
Iana sorriu e deu as mãos às duas.
— É um prazer. E eu sou Iana Urbi, dama de companhia da Grande Esposa Real. Aqui, minhas amigas, somos iguais. Por isso, nada de reverências.
— Mas...
— É uma ordem — disse Iana sorrindo, interrompendo Makena. — Vamos, será divertido. Poderíamos sair juntas para o comércio qualquer dia desses e comprar itens para nossas senhoras. O que acham?
As duas abriram mais os olhos, surpresas.
— A princesa sairia conosco ao comércio?
— Claro! Por que não? Poderíamos comprar perfumes de algum mercador de Punt ou alguma riqueza de além do deserto. O que acham? Nossas senhoras iriam gostar muito de trazermos alguma novidade.
Elas sorriram e concordaram. Em seguida, com uma mesura interrompida por Iana e, caindo na risada, se retiraram, deixando a princesa de Cuxe sozinha com sua gata e seus pensamentos.
***
Acreditava que ela viria, por isso, demorou-se um pouco mais em sair.
— Não vamos partir agora, general? — disse um de seus soldados.
Ele olhou para trás, procurando algum sinal da princesa.
— Precisamos partir, tomar o primeiro barco no porto. Não precisamos esperar por uma felucca. Não temos mais a carga que trouxemos. Podemos ir num barco bem menor e rapidamente chegarmos a Assuan. Assim, nossa viagem será encurtada.
— Eu sei, soldado, eu sei.
Menik ainda olhava para trás, quando viu Iana se aproximar. O general suspirou. Ela estava ainda mais bela àquela manhã. Sentia falta de seus fartos cabelos, mas a peruca e os adornos egípcios lhe caíram muito bem.
— Princesa.
— General. Obrigada por não partir sem que eu chegasse. Eu estava apreensiva.
— Aconteceu alguma coisa?
Iana lembrou-se do que Isisnefer havia feito para atrasá-la, sujando-lhe a túnica de mel durante a primeira refeição.
— Nada em particular. Apenas me atrasei um pouco. Por favor, diga a minha mãe e meu pai que tudo correu bem, e sou a Dama de Companhia da Soberana. Em dois anos, estarei de volta. E que sinto imensas saudades de todos no palácio.
— Claro, princesa. Também sentiremos muitas saudades de você.
Iana franziu o cenho.
— Também sentirá, general?
Menik engasgou. Iana mantinha-se com o olhar sobre ele, sem desviar-se um milímetro. Gaguejou e quase não conseguiu concluir a frase.
— Sim, princesa, sua falta será sentida por todos no palácio e pelos que a serviam.
Ela sorriu.
— Está bem, então. Façam uma boa viagem. Que Amon e Hapi cuidem de seu caminho, protegendo-os até a sua chegada.
E se retirou. Menik sentiu vontade de chutar a si mesmo. Definitivamente, jamais conseguiria se aproximar da Princesa.
Fim da Degustação.
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