A Dríade do Mar - Capítulo Dois

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Não sei por quanto tempo nadei. Ou melhor dizendo: fui levado. Ao contrário da terra firme, no fundo do mar o terreno é acidentado, com muitas elevações e profundidades, diversos bancos de corais e abismos. Além disso, tive a impressão de estar sendo levado em círculos, prolongando mais o trajeto. Provavelmente para que eu não tivesse noção de localização. Não sabiam eles que há muito eu já não fazia ideia de que lugar eu estava. Só sabia que estava na água, nada mais.

Embora muito tempo de nado havia se passado, eu não estava com frio. As águas tinham uma temperatura agradável, provavelmente ainda estávamos na América Central. As duas criaturas que me guiavam nadavam vigorosamente em sua velocidade incrível, que eu mal podia abrir meus olhos. Em alguns momentos, quando eu não suportava mais, eles paravam e me forneciam oxigênio. Em nenhum momento, o que parecia um homem fez esse trabalho, apenas a mulher o fez, o que foi de se estranhar. Isso me fez pensar que talvez eles conhecessem o mundo fora dos mares. Ou simplesmente, me reconheceram como criatura masculina também. Enfim, eu não ia reclamar. Para mim estava mais do que bom.

Cruzamos com alguns cardumes de peixes, que, ao ver-nos, magicamente abriram espaço e nadaram para longe de nós. As criaturas não se abalaram e continuaram nadando. Dois tubarões chegaram a aparecer, mas até mesmo eles nadaram para longe.


Até que a nossa viagem chegou ao seu final. Ao longe, após uma grande elevação, pude ver alguns pontos luminosos, o que me chamou bastante a atenção em águas tão escuras. Eu já tinha ouvido falar em peixes que emitiam uma espécie de luminosidade, por viverem especificamente em regiões abissais, mas nada comparado àquilo. Era como se milhares deles estivessem juntos, em uma única região. E, por saber que nada de mal me acontecera até aquele momento, não estávamos em águas profundas, ou a pressão acabaria comigo.

Nadamos ainda em direção àquele lugar. À medida que nos aproximávamos, pude ver com mais clareza. E fiquei chocado

Era uma cidade. Uma cidade submarina. Eu nunca tinha sequer ouvido falar em nada parecido. Nunca ninguém havia detectado, e ele, que era da Marinha, sabia que havia sondas submarinas espalhadas pelo planeta inteiro. Nada nunca fora captado, nada que indicasse algo daquela magnitude. Aliás, de magnitude nenhuma que levasse a essa direção.

A cidade era recoberta inteira por uma espécie de cápsula transparente, que parecia vidro, mas era bem mais resistente para conter toda a água acima deles. Lá dentro, uma cidade, do tamanho do bairro de Manhatan. Era incrível. Nadando ainda ao longe, eu podia ver pequenas vielas, algo como casas, um pequeno coreto como uma praça, e todas as ruas davam para um lugar mais elevado, onde havia uma espécie de pequeno castelo. Do lado de fora da cápsula, por trás do castelo, uma incrível colônia de algas marinhas e toda a espécie de plantas aquáticas.

As criaturas pararam de nadar diante do que seria uma porta. Era uma espécie de cubículo, uma ante-sala daquele lugar incrível. Abriram e me colocaram lá dentro. Antes disso, mais uma boa quantidade de ar, vinda dos lábios macios da bela sereia dos cabelos alaranjados. Então, fecharam a porta comigo lá dentro, eles do lado de fora. E sumiram das minhas vistas. Fiquei apavorado. Seria eu deixado lá para morrer? E se eu fosse a comida?

Já tinha ouvido diversas vezes histórias sobre criaturas marinhas, sereias etc. Todas elas falavam do perigo de se cruzar com uma dessas criaturas, do encanto que elas exercem sobre os humanos e algumas falavam até de se alimentarem de humanos. Foi quando a cabine começou a se esvaziar de toda a água. Ao mesmo tempo, pude sentir ar, o mais puro ar tomar o lugar da água salgada. Eu já podia firmar meus pés no chão. Já tinha perdido meus sapatos e meus pés estavam parecendo uvas passas.

Então, pelo lado de dentro da cidade, um homem (sim, um homem) se aproximou. Ele não nadava. Ele caminhava sobre suas pernas. Era um homem belo, aparentava ter trinta anos, alto e forte. Seus cabelos também eram azuis, como os do outro, mas não numa cor tão forte. Eram mais claros, assim como seus olhos. E tinha a pele igualmente branca. Os braços tinham pequeninas ventosas até às mãos, mas quase tão minúsculas que só prestando muita atenção se observaria. E os dedos não tinham barbatanas. Não tinha nenhum tipo de pelo no rosto nem no corpo, e vestia uma espécie de short.

Abriu a porta e segurou meu braço, tirando-me da cabine. Então, em silêncio, sem dizer uma só palavra, começou a me conduzir pelas pequenas ruas da cidadezinha submarina. Sua mão parecia aço em meu braço, e eu apenas obedecia. Pude perceber que o interior da cidade não era tão frio quanto a água, mas não fiz menção de abrir minha boca. Com certeza aquelas criaturas sequer falavam.

Com medo, apenas caminhei, na certeza que diversos olhos por toda a parte me observavam, mesmo sem ver seus donos. À medida que avançávamos, pude observar melhor a cidade. Ela fora erguida a partir de bancos de corais, e tinha diversas cores, do róseo ao verde escuro. Algumas casas eram cobertas de conchas, mas nenhuma planta ou vegetal. O mais impressionante, além da cápsula de material desconhecido que impedia a entrada de água, era a iluminação. A cidade estava toda iluminada. Havia pequenos postes a distâncias regulares. Eram mastros de navios cortados a alturas medianas e, na ponta, uma espécie de pedra desconhecida, que emitia luz. Fiquei olhando para cima, para tentar identificá-la, e fui empurrado pelo meu guia, que me conduzia ao pequeno castelo.

Olhei em volta. De vez em quando, surpreendia um homem ou uma mulher dentro de suas casas, olhando. Quando eu os via, eles se escondiam. Medo? Tinham medo de mim? Impossível!

Avançamos mais e mais, até chegarmos à entrada da casa maior, o castelo, que seria provavelmente de quem mandava naquela cidade. Imaginei que decidiriam ali o meu destino e comecei a me preocupar. Preferia ter morrido afogado quando caí do Kronus. Por que será que haviam me trazido até ali? Se me deixassem à deriva, os mergulhadores me encontrariam. Ninguém nunca descobriria a cidade submarina.

O homem de cabelos azuis me deixou diante da porta e saiu rapidamente. E eu fiquei sozinho ali. Então, a porta, que era feita de materiais diversos, provavelmente cascos de navios naufragados, se abriu. Um velho, aparentando uns setenta anos, apareceu. Mesmo assim, era belo. Sua velhice era aparentada apenas nas rugas ao redor dos olhos e na barba comprida, que se misturava aos cabelos também compridos. Mas eram verdes-claro, numa tonalidade quase branca. Ele trajava apenas short, como o outro, e seu corpo era forte. Talvez ainda pudesse desafiar um dos jovens de sua cidade, o que eu duvido que alguém tivesse coragem de aceitar. De si emanava uma autoridade que eu mesmo podia sentir. Ele era, certamente, um líder naquela comunidade.

Ao contrário das criaturas que conheci até agora, ele não puxou-me pelo braço. Apenas afastou-se da porta para que eu pudesse entrar. O interior da casa também era iluminado pelas mesmas pedras, e eu estava curioso. Mas não fiz menção de observá-las de perto, apenas aguardei as ordens ou o que quer que fosse acontecer.

Eu estava numa espécie de sala, com uns bancos e uma pequena mesa de canto, vazia. Tudo era feito de corais, pedras submarinas e restos de navios naufragados. Materiais que eles encontravam no fundo dos oceanos.

O velho saiu de perto de mim e subiu uma escadaria, indo para o primeiro andar. Aguardei. O silêncio era aterrador. Então, a criatura mais bela e mais encantadora que eu já vi em toda a minha vida começou a descer as escadas, em minha direção.

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